Sondagem Legislativas: AD deixa PS para trás. Chega é o que mais perde. Livre cresce com a crise
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Já não há empate técnico. Se o país fosse por estes dias a votos, a AD (34,4%) deixaria o PS (27,8%) a quase sete pontos de distância, com os homens a serem decisivos na vantagem da coligação de centro-direita sobre os socialistas. De acordo com a mais recente sondagem da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN, o Chega (14,9%) é o partido que mais perde com a antecipação eleitoral. Mais abaixo seguem a Iniciativa Liberal (6%) e o Livre (5,5%), a força política que mais beneficiou com a crise do último mês, ultrapassando a CDU (3,4%) e o BE (2,7%). O PAN (0,5%) ficaria de fora do Parlamento.
Tendo em conta que a margem de erro da sondagem é de mais ou menos 3,16%, a liderança da AD aparenta solidez. O seu patamar mínimo (31,4%) é agora superior ao máximo a que o PS poderia aspirar nesta altura (30,6%). A coligação liderada por Luís Montenegro é a força política que mais cresce relativamente às eleições do ano passado (5,6 pontos percentuais) e conquista um ponto entre as sondagens do início e do final de março, o que sugere que o caso Spinumviva, que levou à queda do Governo, já não tem o potencial para causar estragos eleitorais.
No entanto, é importante notar que uma sondagem é o retrato de um momento que já passou, ainda que recente (o trabalho de campo decorreu durante toda a semana passada), e que, quando falta mês e meio para as legislativas é impossível prever o resultado. Acresce que o número de indecisos (18,6%) seria só por si suficiente para baralhar as contas. Com alguns segmentos a destacarem-se na hesitação relativamente a quem votar: os que têm 45 a 54 anos (23% de indecisos) e 18 a 24 anos (21%) e os que vivem em Lisboa e no Norte (20%).
Montenegro mais forte mas ainda sem maioria
A outra da face da moeda, relativamente à AD, é que, com estes resultados, e apesar do crescimento, um futuro Governo voltará a ser minoritário. Mesmo que Luís Montenegro conseguisse negociar com os liberais (6%) um acordo pós-eleitoral, os números são curtos: 40 pontos são insuficientes para obter uma maioria absoluta na Assembleia da República. Recorde-se que a última vez que dois partidos de centro-direita (PSD e CDS) conseguiram esse tipo de controlo parlamentar, concorrendo em listas separadas, foi em 2011, somando 50% dos votos e 132 deputados.
À Direita, o fiel da balança continuaria a ser o Chega, que está em terceiro lugar (14,9%). Apesar de ter recuperado um ponto entre a sondagem do início de março e a atual, o partido da direita radical populista (designação da ciência política) continua a ser o que mais perde, se a comparação se fizer com as últimas legislativas (mais de três pontos). Com André Ventura afastado do arco do poder, graças ao “não é não” de Luís Montenegro, a enorme vantagem do bloco à Direita (56 pontos, mais quatro do que nas últimas legislativas) sobre o da Esquerda (40 pontos, menos um do que em 2024) não reverte em estabilidade.
Força inesperada no Livre e abismo no Bloco
A vantagem da AD não se faz à custa do PS, que parece um relógio suíço, tal a estabilidade dos resultados em sucessivos estudos de opinião da Pitagórica. Ainda que os socialistas tenham perdido um ponto, relativamente à sondagem do início de março, a verdade é que estão no mesmo patamar das últimas legislativas, a rondar os 28%. Um relógio suíço... parado. Os eleitores não agravam o castigo sofrido em 2024 (o PS perdeu a maioria absoluta), mas também não parecem mobilizados para fazer de Pedro Nuno Santos primeiro-ministro. Acresce outra dificuldade: os socialistas não têm, à Esquerda, parceiros com a força suficiente para montar uma geringonça.
Mesmo que um das grandes surpresas desta sondagem seja o Livre (5,5%), o partido que mais cresce em tempos de crise política (quase três pontos do início para o final de março). Se tivermos em conta a margem de erro (mais ou menos 3,16%), poderia até superar a Iniciativa Liberal: o patamar máximo do partido de Rui Tavares (6,9%) fica acima do mínimo atribuído à IL de Rui Rocha (4,5%). Esta moeda tem, no entanto, duas faces: o mínimo para o Livre é de 4,1% e o máximo para os liberais é de 7,5%, caso em que a proximidade já não seria assim tão evidente.
Seja como for, o Livre supera, nesta altura, partidos de Esquerda com mais anos de história: CDU (3,4%), com um resultado muito semelhante ao das últimas legislativas, e Bloco de Esquerda (2,7%), que é, depois do Chega, o segundo partido que mais perde com esta crise (quase dois pontos face a março de 2024). As próximas semanas dirão se a aposta em nomes históricos como Francisco Louçã, Fernando Rosas e Luís Fazenda conseguirá reverter a sangria.
Homens deram um empurrão decisivo à AD
A análise aos diferentes segmentos de eleitores (género, idade, classe social e região) permite perceber melhor as diferenças entre os vários partidos. E desta vez, também é aí que se encontra a explicação para o duplo movimento de subida (da AD) e descida (do PS) ao longo do mês de março. Concretamente no género: foi entre os homens que se acentuou a vantagem da coligação de centro-direita sobre os socialistas (de dois para nove pontos), uma vez que, entre as mulheres, a diferença se reduziu de seis para dois pontos (de novo com a AD à frente).
Acrescente-se, no entanto, que PSD/CDS atingiram um equilíbrio perfeito, com uns redondos 28% neles e nelas (nos segmentos, os valores são apresentados sem distribuição de indecisos). Já no PS acentua-se a importância do eleitorado feminino (mais sete pontos do que entre os homens).
O poder de atração masculino que falta aos socialistas (apenas 18,9%), sobra ao Chega (17%), que mantém a dificuldade em atrair as mulheres (7,8%). Ainda no que ao género diz respeito, destaca-se o equilíbrio da Iniciativa Liberal, enquanto o Livre e a CDU se mostram mais femininos (pouco habitual nos comunistas).
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Pedro Nuno perdeu o voto dos pensionistas
Quando o foco de análise incide sobre a idade do eleitor, percebe-se que é nos 25/34 e 35/44 anos que a vantagem da AD sobre o PS é maior (doze pontos). Mas talvez o mais notável talvez seja o facto de, nesta sondagem, a coligação liderada por Luís Montenegro também estar à frente entre os pensionistas (65 ou mais anos) e logo por quatro pontos (34%).
Este é o grupo mais numeroso das seis faixas etárias em que se divide a amostra e aquele que, durante a última década, se revelou o principal bastião socialista. O PS continua a ter o seu melhor resultado (29,9%) entre os mais velhos e está em primeiro entre os mais jovens (18/24 anos), com 20,2%. Nos 55/64 anos empata com a AD (26,4%).
O Chega consegue o seu melhor resultado, ao ponto de arrancar um segundo lugar, na faixa dos 35/44 anos (18,7%). É também nesta geração que a IL atinge a sua melhor pontuação (11%). A Direita radical e os liberais partilham outro traço: maior debilidade entre os eleitores mais velhos. Nota ainda para o Livre que, entre os mais jovens (18/24 anos) consegue o quarto lugar (8,1%), à frente da IL (5,6%).
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Esquerda só está próxima da Direita em Lisboa
Também no que diz respeito à geografia, a AD mostra a sua força, liderando nas quatro regiões em que se divide a amostra, com destaque para o Centro (31%, mais nove pontos do que o PS), que substitui o Norte (29,7%, mais oito do que os socialistas) como principal bastião do centro-direita. O terreno mais difícil para Luís Montenegro continua a ser a região de Lisboa (22,4%), ainda que tenha conseguido roubar a liderança a Pedro Nuno Santos. Para este último, o melhor resultado é agora no Sul e Ilhas (27,5%), mas é na capital que mais se aproxima do principal rival (20,6%).
O Chega de André Ventura consegue o terceiro lugar em todo o país, volta a ter o melhor resultado a Sul (que inclui o Algarve, região em que ficou em primeiro lugar, nas últimas legislativas) e o pior a Norte (11,1%). Os liberais têm o melhor resultado em Lisboa (6,4%), mas ficam atrás do Livre (8,2%). É também na região da capital, que inclui a margem sul e Setúbal, que os comunistas têm o seu melhor resultado (5%), duplicando o resultado do BE (2,5%).
Acresce que a região de Lisboa é a mais acolhedora para o bloco de partidos à Esquerda. É ainda o bloco à Direita (41 pontos) que lidera, mas com uma vantagem de “apenas” quatro pontos sobre a Esquerda (37 pontos). Nas regiões Centro e Norte, o fosso alarga-se para 18 pontos, com vantagem para a Direita.
Ficha técnica
Sondagem realizada pela Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade do país. O trabalho de campo decorreu entre os dias 24 e 29 de março de 2025. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores portugueses recenseados e foi devidamente estratificada por género, idade e região. Foram realizadas 1626 tentativas de contacto, para alcançarmos 1000 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 61,50%. As 1000 entrevistas telefónicas recolhidas correspondem a uma margem de erro máxima de +/- 3,16% para um nível de confiança de 95,5%. A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social, que os disponibilizará para consulta online.