Sondagem: Ventura vale menos do que o Chega. Cotrim e Catarina mais do que IL e BE
Análise de Rafael Barbosa e gráficos de Inês Moura Pinto
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A sondagem da Pitagórica para o JN, TSF, TVI e CNN do mês de novembro incluiu perguntas sobre a intenção de voto sobre presidenciais e legislativas. Embora, à partida, pareça discutível comparar os resultados obtidos para duas eleições distintas, o facto de partilharem a mesma amostra e de haver candidatos com origem clara em cada um dos principais partidos parlamentares (a exceção é Gouveia e Melo), fornece algumas pistas interessantes sobre as personalidades que estão na corrida a Belém: Mendes (AD), Seguro (PS), Pinto (Livre) e Ventura (Chega) valem menos dos que os seus partidos; Cotrim (IL) e Martins (BE) valem mais; e Filipe (CDU) vale o mesmo.
As maiores diferenças são as de Luís Marques Mendes e de António José Seguro: o social-democrata (22,6%) está 16 pontos abaixo da intenção de voto da AD (38,5%), enquanto o socialista (17,4%) fica nove pontos abaixo do que se projeta nesta altura para o PS (26,4%). Haverá duas explicações para estas diferenças assinaláveis: o facto de serem figuras algo contestadas entre parte do eleitorado tradicional dos dois maiores partidos, e o facto de Henrique Gouveia e Melo (21,1%), que se assume como independente, ter o apoio ativo de várias figuras de peso do PSD e do PS. O almirante, recorde-se, conquista quase um em cada cinco eleitores da coligação de centro-direita e um em cada quatro eleitores dos socialistas.
Mas talvez o mais surpreendente seja o facto de André Ventura valer menos do que o seu partido (dois pontos), uma vez que o Chega é o mais próximo que o sistema tem de um partido de um homem só. No seu curto histórico de eleições (as primeiras foram em 2019), sempre que o candidato não foi Ventura, o partido perdeu fulgor: foi assim nas europeias de 2024 e nas autárquicas deste ano.
É um facto que o Chega está em forte perda relativamente às últimas legislativas, nesta sondagem, mas a isso acresce que Gouveia e Melo também penetra com alguma força nos que votaram em maio no partido da direita radical populista (ainda que numa percentagem menor do que a dos dois grandes partidos centrais). Finalmente, Jorge Pinto está quatro pontos abaixo do Livre, o que dificilmente recuperará, ainda que se possa usar o argumento que é o candidato mais recente e de menor notoriedade.
Ao contrário, há um candidato que demonstra ter um valor facial bem superior ao do seu partido, pelo menos nesta altura. João Cotrim Figueiredo (12,6%), que já foi líder dos liberais, e optou entretanto pelo "retiro" de Bruxelas, vale mais sete pontos do que a IL (5,3%). A principal explicação para esse facto parece residir no facto de conseguir captar uma fatia bastante considerável de eleitores que escolheram a AD nas legislativas de maio (e já agora, ainda que em proporção mais modesta, também do Chega).
Finalmente, uma outra ex-líder partidária demonstra que vale quatro vezes mais do que o seu partido: Catarina Martins surge na sondagem com 4,4%, enquanto o Bloco de Esquerda agoniza nos 0,7%. Sendo certo que para este pecúlio contribui a sua capacidade de ir pescar alguns eleitores socialistas, talvez mais à Esquerda do partido, que a preferem a Seguro.
Ficha técnica
Sondagem realizada pela Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF e JN com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com as eleições presidenciais de 2026. O trabalho de campo decorreu entre os dias 5 e 14 de novembro de 2025. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores recenseados em Portugal e foi devidamente estratificada por género, idade e região. Foram realizadas 1906 tentativas de contacto, para alcançarmos 1000 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 52,47%. As 1000 entrevistas telefónicas recolhidas correspondem a uma margem de erro máxima de +/- 3,16% para um nível de confiança de 95,5%. A distribuição de indecisos é feita de forma proporcional. A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará para consulta online.

