Polémica no grupo do Facebook "Professores contratados" devido a publicação acusada de fomentar discurso de ódio contra ciganos.
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O Movimento SOS Racismo denunciou à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) a autora do post "Evite levar na tola, leve um sapo para a escola", divulgado na página do Facebook "Professores contratados", após ter recebido uma queixa de um docente indignado com o "ato de xenofobia". Fonte da CICDR disse ao JN que o caso está "em fase de análise".
Publicado no dia 26 de outubro, com a imagem de um sapo, o post exaltou os ânimos no grupo de professores contratados, com as opiniões a dividirem-se. Os apoiantes encararam-no como um momento de humor ou como um ato de solidariedade com a professora da Figueira da Foz que, recentemente, foi vítima de agressões.
Os críticos denunciaram a publicação junto dos administradores do grupo por considerarem que promove o "discurso de ódio contra minorias étnicas", sem que a mesma fosse retirada, o que contribuiu para aumentar o tom de indignação. Um desses docentes fez uma denúncia ao SOS Racismo, a que o JN teve acesso, onde se lê que o post foi "um sucesso de comentários jocosos contra os ciganos e de apoio à professora que o publicou".
37 mil pessoas integram o grupo fechado "Professores contratados" no Facebook, onde habitualmente partilham preocupações da classe e esclarecem dúvidas.
Preocupado com o facto de o post ter tido mais de 400 apoiantes que colocaram "gosto" ou optaram pelo emoji da gargalhada, o docente-queixoso lamenta o facto de serem "pouquíssimos" os que põem em causa a publicação de teor racista e nenhum dos administradores o ter retirado, tendo em conta a gravidade da situação. "É incendiário."
Fundador e membro da direção da SOS Racismo, José Falcão explicou ao JN que sempre que recebem queixas deste teor as encaminham para a CICDR, entidade que sanciona atos discriminatórios devido à origem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência e território de origem. "O problema é que a lei não presta para nada, ou quase nada."
"Desde 1996 que defendemos a criminalização dos atos de discriminação racional, mas o Parlamento nunca aceitou a nossa proposta", lamenta José Falcão. "Para que servem as denúncias, se os casos de condenação ao pagamento de contraordenação são ridículos?", questiona.
O ativista não desvaloriza o facto de a discussão se passar num grupo fechado. "Essas 37 mil pessoas chegavam e sobravam para discutir uma iniciativa legislativa de cidadãos", argumenta, lembrando que essas iniciativas requerem a assinatura de 20 mil pessoas.
"Serem professores devia ser uma agravante", defende. "É absolutamente incrível que se passe a vida a desvalorizar a discriminação racial. Mas não são só os professores. Ouve-se isso no Parlamento", afirma, aguardando agora a pronúncia da CICDR.