JN acompanhou o curso da Universidade Itinerante do Mar a bordo do navio em que a Marinha dá treino de mar a civis, numa viagem de duas semanas.
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Causaram surpresa a uns, foram indiferentes para outros e ora se tornaram alvo de curiosidade ou de algumas graçolas, mas a verdade é que duas roseiras e outras tantas japoneiras também foram passageiras embarcadas no veleiro "Creoula".
Discretas e quase alheias ao balanço - por vezes acentuado, em alto mar - do navio com que a Marinha dá treino de mar a civis (termina hoje o curso da Universidade Itinerante do Mar (UIM), que o JN acompanhou), as flores resistiram ao longo de seis dias, instaladas na biblioteca da embarcação, sob os cuidados de Manuel Fernandes, um aluno de doutoramento que estuda o intercâmbio de plantas [ver caixa].
A troca foi concretizada no passado fim de semana, no Jardim Botânico da Madeira, que recebeu os quatro exemplares oriundos do homólogo do Porto e lhe doou outros tantos de espécies que apenas existem no arquipélago. No regresso, foram estas que habitaram a biblioteca do "Creoula" - duas herbáceas, um folhado e um arbusto -, na viagem desde o Funchal, onde o navio passou dois dias, até ao continente.
Miniexperiência
"Estamos com esperança de que elas se deem bem no Jardim Botânico do Porto", disse Luísa Gouveia, diretora de serviços na estrutura idêntica da Madeira.
"A primeira parte da experiência correu bem", congratulou-se Manuel Fernandes, que está a desenvolvê-la no âmbito do doutoramento em Geografia (sobre a introdução e difusão de acácias no Sudoeste europeu), no Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT).
"Uma parte do meu trabalho de investigação centra-se na transferência de plantas a longa distância, da América Central para o Sudoeste europeu, nos séculos XVI e XVII, e esta é uma miniexperiência para perceber, de forma empírica, quais são as condições de sucesso ou insucesso da transferência por via marítima", explicou ao JN Manuel Fernandes, de 47 anos, que seguiu no "Creoula" na condição de instruendo da Universidade Itinerante do Mar (um projeto das universidades do Porto e Oviedo, em Espanha, e da Escola Naval).
A bordo, o engenheiro florestal de Guimarães foi registando a evolução dos exemplares a cada dois dias. "O objetivo é verificar o estado das plantas mediante as condições em que foram colocadas". v
v Foi já em julho que Manuel Fernandes teve conhecimento da 10.ª edição da UIM, mas logo tratou de propor o intercâmbio de espécies vegetais através do navio Creoula. Lançou o desafio aos organizadores da UIM e à Marinha, que aceitaram a proposta de embarcar plantas a bordo do navio de treino de mar e transportá-las entre o Porto e a Madeira, fazendo depois a viagem de retorno para Lisboa com outras espécies a bordo. Depois, foi obter a concordância dos jardins botânicos do Porto e da Madeira, e a experiência ganhou corpo. "Tudo em três semanas", diz Manuel Fernandes.