A secção regional do Norte da Ordem dos Médicos mostrou "preocupação" pela situação "difícil" do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), onde estão internados "cerca de 180" doentes covid-19, "o correspondente a 10% dos internamentos nacionais".
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"Estamos muito preocupados pela situação que aquele hospital vive. O Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), já em tempo normal, está subdimensionado para a população que serve, mas a pandemia agudizou essa insuficiência. Tem tido uma afluência enorme. Até quinta-feira, tinha 180 doentes internados com covid-19. Isto é 10% de todos os doentes internados a nível nacional com covid-19", disse à agência Lusa, esta sexta-feira, o presidente da secção regional do Norte da Ordem dos Médicos.
António Araújo falava após visitar o hospital de Penafiel que pertence ao CHTS e, sublinhando um aplauso ao "esforço de todos os profissionais de saúde" que "até põem em risco as suas famílias", lançou críticas à Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-N) e à tutela.
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"Estranhamos que, perante uma situação destas de grande pressão naquele hospital, a ARS-N e a tutela tenham tardado em reagir. O hospital até quinta-feira, praticamente tentou resolver por si as dificuldades que estava a encontrar. Tentou encontrar soluções a nível estrutural. Verificamos isso no local. E verificamos também que os médicos, os enfermeiros e os auxiliares estão exaustos", disse António Araújo.
Com unidades em Penafiel e em Amarante, o CHTS presta apoio a cerca de 520 mil pessoas numa região que inclui Paços de Ferreira, Lousada e Felgueiras, concelhos onde vigora o dever de permanência no domicílio, decretado há cerca de uma semana pelo Conselho de Ministros devido ao aumento de infeções pelo novo coronavírus.
Nos últimos dias, este centro hospitalar tem sido alvo de preocupações devido à sobrecarga de vários serviços, nomeadamente da urgência. Numa reportagem de quinta-feira publicada pelo Expresso leem-se relatos de médicos que apontam para a "rutura do hospital": Sentimo-nos em Itália mas sem que seja reconhecido isso. É como se as paredes não permitissem que se visse para dentro", referiu uma das profissionais. A Ordem dos Enfermeiros Norte denunciou que, às 22 horas de segunda-feira, a área respiratória do serviço de urgência tinha 115 doentes, 29 dos quais casos confirmados covid-19.
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"Isto para quatro enfermeiros. O conselho de administração tenta gerir, conseguiu um reforço de enfermeiros a meio da noite, mas não é humanamente possível (...). A tutela tem de tomar uma decisão importantíssima e olhar para este hospital", disse à Lusa o presidente da secção regional do Norte, João Paulo Carvalho. Entretanto, na quinta-feira foi confirmado que o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa transferiu 10 doentes com covid-19 para o Hospital Fernando Pessoa, em Gondomar, prevendo a transferência de mais doentes para outros hospitais ao longo do dia.
António Araújo defendeu uma "melhor coordenação" dentro do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para transferência de doentes e partilha de recursos e o recurso "eventualmente" a unidades privadas e do setor social. O responsável criticou os chamados "contratos covid", modelo criado pelo Governo para a admissão temporária de profissionais de saúde. "Esses contratos permitem às unidades de saúde admitir, mas não estão a ter qualquer efeito. Têm a duração de quatro meses. Não resolvem nenhum problema. O tempo muito limitado e as especificações grandes [necessárias] fazem com que seja muito diminuto o número de profissionais que concorre", disse.
O responsável também manifestou "surpresa" por ter tido conhecimento de que a Linha de Saúde 24 "continua a direcionar cidadãos para fazer teste covid-19 nas urgências do CHTS". "É um fator de disrupção da atividade normal e assistencial do serviço de urgência que, já por si, está em pressão", avaliou. António Araújo contou que o CHTS tem "carência de ambulâncias", o que "dificulta o processo de transferência de doentes". "A ARS-N, com a sua influência, pode tentar colmatar esta situação contactando a câmara do Porto e os Sapadores do Porto e pedindo ajuda para a transferência de doentes", sugeriu.
A agência Lusa solicitou comentários à ARS-N, que contrariou as críticas e garantiu que tem tido um "papel de articulação da rede hospitalar", trabalhado "24:00 horas diárias" e lembrou "a agilização da convenção celebrada" com outros hospitais. Fonte da ARS-N indicou que "até ao momento" [cerca das 15:30] foram colocados 15 doentes do CHTS no hospital privado Fernando Pessoa (Gondomar) e 10 no Hospital Militar (Porto).
Hoje, o secretário de Estado da Saúde, Diogo Serra Lopes, na conferência de atualização de dados sobre a pandemia disse que "o SNS trabalha em rede e que o CHTS está a ser apoiado por outros hospitais da região que estão a receber doentes" daquela unidade.