Os últimos sete meses fizeram-se de polémicas e escrutínio. A indemnização paga a Alexandra Reis desencadeou um novelo de episódios que assumiram o protagonismo diariamente. Pelo meio, tomou posse um novo CEO que quer devolver a paz social à empresa enquanto o governo prepara a venda ao privado.
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Quanto recebeu Alexandra Reis para sair da TAP?
Foram as divergências com a ex-CEO da companhia, Christine Ourmières-Widener, que ditaram a saída de Alexandra Reis da TAP. Em fevereiro de 2022, e após quase cinco anos na empresa, a ex-administradora recebeu uma polémica indemnização de 500 mil euros - o triplo do que pediu inicialmente. Os valores só foram publicamente conhecidos em dezembro do ano passado, numa altura em que Alexandra Reis tinha acabado de assumir funções como secretária de Estado do Tesouro, cargo que ocupou depois de uma breve passagem pela NAV. A saída deste meio milhão de euros dos cofres da empresa pública, que está a cumprir um rigoroso plano de reestruturação, foi o gatilho para os longos meses de escrutínio à companhia.
O que aconteceu ao dinheiro?
No seguimento das conclusões do parecer da Inspeção-Geral de Finanças (IGF), conhecido a 6 de março, que considerou nulo o acordo entre a TAP e a ex-gestora, Alexandra Reis teve de devolver parte da indemnização recebida à transportadora. No final de maio, Alexandra Reis informou que devolveu mais de metade da indemnização à TAP: 266 mil euros. Este foi, segundo a própria, o montante líquido global pedido pela companhia.
A TAP tinha verbas para pagar?
Apesar dos prejuízos históricos de 1599,1 milhões de euros registados em 2021 e do aperto do cinto que o plano de reestruturação aprovado pela Comissão Europeia impôs à empresa - que resultou em cortes salariais e nos despedimentos de mais dois mil trabalhadores -, o administrador financeiro da TAP, Gonçalo Pires, garantiu que o montante pago a Alexandra Reis teve “cabimento orçamental”. Segundo o responsável, em fevereiro de 2022, altura da saída da administradora, a TAP tinha uma dotação de 2,3 milhões de euros para indemnizações não previstas.
Alexandra Reis foi caso único?
Não. A TAP pagou 8,5 milhões de euros a ex-administradores que saíram da companhia entre 2019 e 2022, de acordo com um estudo da consultora EY, enviado à Comissão parlamentar de Inquérito (CPI) à tutela política da gestão da TAP e que foi divulgado, durante as audições, pelo deputado da Iniciativa Liberal, Bernardo Blanco. O braço direito do antigo acionista David Neeleman, Maximilian Otto Urbahn, saiu da companhia com um acordo de pré-reforma de 1,35 milhões de euros a serem pagos entre dezembro de 2018 e dezembro de 2022. Também Teresa Lopes, ex-administradora financeira, recebeu uma indemnização de 1,2 milhões de euros acordada em 2017, altura em que o Estado já detinha 50% do capital da TAP.
E a ex-CEO vai receber alguma compensação?
Christine Ourmières-Widener foi exonerada pelo governo no seguimento do parecer da IGF que aponta responsabilidades à gestora francesa e ao ex-chairman, Manuel Beja, no caso de Alexandra Reis. A antiga presidente-executiva vai avançar com vários processos judiciais contra o Estado, incluindo um pedido de indemnização milionária que pode ascender a três milhões de euros, adiantou a advogada da ex-CEO da TAP ao Jornal Económico.
Quem gere a TAP agora?
Luís Rodrigues é o sucessor de Ourmières-Widener e de Manuel Beja. O atual CEO e chairman da TAP deixou os lemes da açoriana SATA para enfrentar a dura missão de gerir a transportadora aérea de bandeira no meio da tempestade em que a companhia se tem visto envolvida. Em silêncio absoluto desde que entrou, Luís Rodrigues já completou três meses de liderança na TAP e soma já elogios dos trabalhadores, nomeadamente pela boa condução da negociação dos acordos de empresa (AE).
Depois dos prejuízos, como ficaram as contas da TAP em 2022?
Depois de ter apresentado o pior resultado de sempre em 2021, a TAP alcançou lucros de 65,6 milhões de euros em 2022. Esta foi a primeira vez em cinco anos em que as contas da companhia foram positivas. A TAP antecipou, desta forma, em dois anos as metas definidas no plano de reestruturação da Comissão Europeia, que previa que a empresa pública só regressasse aos lucros em 2025. No ano passado, a TAP transportou 13,8 milhões de passageiros, um crescimento de 136,1% face a 2021. Mais clientes significaram também mais receitas para a empresa que amealhou 3072,4 milhões de euros (+ 187,9%) com esta subida.
Os trabalhadores continuam com cortes salariais?
A maioria sim. Estão atualmente a decorrer as negociações para os novos AE com todos os sindicatos da empresa, e o objetivo é que este processo esteja terminado entre agosto e setembro. Com a assinatura do documento cairão por terra os cortes nos vencimentos atualmente fixados em 20%. Para já, os pilotos foram os únicos trabalhadores que já concluíram as negociações e, portanto, já recebem os salários na totalidade.
A TAP vai ser vendida?
É essa a intenção do governo, alienar uma parte do capital a um acionista privado. O executivo quer manter uma participação na companhia, embora não tenha ainda esclarecido qual é a fatia que está disposto a vender. Fernando Medina adiantou, esta semana, em entrevista à Bloomberg, que o decreto-lei sobre a privatização será aprovado nas próximas semanas. Manter o hub em Lisboa será uma das condições que o governo irá impor ao futuro comprador e que deverá constar do caderno de encargos.
Quem quer comprar a TAP?
Há três nomes em cima da mesa: a alemã Lufthansa, a franco-holandesa Air France-KLM e o grupo IAG, que detém a espanhola Ibéria e a British Airways. Mas João Galamba já garantiu que há mais interessados na compra da TAP entre eles players “do setor da aeronáutica e da energia”.
O governo vai perder dinheiro neste negócio?
Provavelmente. A consultora Ernst & Young e o Banco Finantia foram contratados pela Parpública para realizarem de avaliações independentes à TAP e é a partir daí que se saberá quanto vale a companhia. É quase certo que estas avaliações fiquem abaixo da linha dos 3,2 mil milhões de euros injetados nos cofres da companhia pelo governo. Na reprivatização de 2015, a consultora PWC avaliou a TAP em 512 milhões de euros negativos. Já a avaliação mais recente realizada à TAP, pelo Deutsche Bank, em 2019, e citada pelo Eco (a propósito da entrada em bolsa, que acabou por ser travada pelo governo) aponta para um valor máximo de 1035 milhões de euros.