Os atletas-estudantes são uma das preocupações do Ministério da Educação liderado por Tiago Brandão Rodrigues.
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O ministro explica, ao JN, a importância das Unidades de Apoio ao Alto Rendimento na Escola (UAARE), que já integram 600 alunos-atletas em 19 estabelecimentos de ensino. Graças a várias parcerias, verifica-se o aumento do sucesso escolar e a diminuição do abandono.
De acordo com um estudo do Sindicato de Jogadores e publicado pelo JN, um terço dos futebolistas profissionais não concluiu o ensino obrigatório. Está surpreendido?
Todos os alunos que não cumpram a escolaridade obrigatória devem ser uma preocupação. Nesse sentido, tem sido desenvolvido um conjunto de políticas públicas com o objetivo da promoção do sucesso escolar, o seguimento de alunos com dificuldades, como o apoio tutorial específico, e, para estes alunos-atletas, a criação de uma rede nacional de Unidades de Apoio ao Alto Rendimento na Escola.
Como é feito o combate ao abandono escolar dos jogadores?
A concretização de verdadeiras e estruturadas carreiras duais - em que o alto rendimento desportivo possa ser conciliado com o sucesso escolar, com efetivo combate ao abandono escolar e ao abandono desportivo, tem sido uma prioridade das nossas políticas. Temo-lo concretizado através das UAARE, que têm vindo a crescer, alcançando atualmente 600 estudantes de 19 escolas. Estão envolvidas 40 modalidades.
Um atleta de alta competição tem um horário escolar diferente dos outros alunos?
As UAARE têm por objetivo conciliar a atividade escolar com a prática desportiva de alunos-atletas no alto rendimento, integrados em seleções nacionais ou com potencial talento desportivo, através da articulação eficaz entre escolas, encarregados de educação, clubes e federações desportivas. Os sucessos escolar e desportivo destes alunos são potenciados com a diversificação e a flexibilidade horária, bem como a inovação pedagógica na gestão dos respetivos currículos. A UAARE privilegia o apoio pedagógico e o ensino à distância a alunos-atletas nas situações de mobilidade temporária por motivos desportivos (estágios, competições), no que respeita à recuperação de aprendizagens e à preparação e realização de testes e provas nacionais. Estes alunos-atletas podem requerer a realização de provas ou exames em época especial, desde que estes coincidam com a participação em competições desportivas.
É possível quantificar o aumento do sucesso escolar e a diminuição de abandono dos alunos-atletas nos últimos anos?
O sucesso escolar dos alunos abrangidos pelas UAARE, em paralelo com a taxa residual de abandono escolar nestas unidades, são a prova de que este é um projeto com resultados muito positivos. O desempenho académico dos mais de 400 alunos que frequentaram estas unidades no ano letivo passado foi de 94%. As melhorias no modelo de organização das UAARE, com um enfoque mais pedagógico, bem como o apoio psicológico e articulação com os agentes desportivos justificam estes números, bem como a baixa taxa de abandono escolar que, em 2018/19, se ficou pelos 1,2%, mais baixa do que nos anos anteriores. Números positivos quando se olha para o panorama internacional. Os dados internacionais indicam que, anualmente, se retiram do desporto cerca de 30% de alunos-atletas. Estes estudantes-atletas, que frequentaram as UAARE em 2018/19, tiveram 17 lugares de pódio mundiais, 18 de pódios europeus, 216 participações internacionais, 231 chamadas às seleções nacionais, 223 lugares de pódio nacional, havendo cerca de 100 campeões nacionais.
Como é feito o acompanhamento aos alunos-atletas das UAARE?
Em cada uma destas escolas foram criadas equipas pedagógicas UAARE (formadas pelo professor-acompanhante, professores da salas de estudo, professores de apoio, psicólogos, encarregados de educação e interlocutores desportivos), com o objetivo de acompanhar o processo pedagógico e de apoio psicológico, tendo em consideração questões como a gestão de ausências, as compensações em caso de faltas e a criação de ambiente de aprendizagem individualizada, onde são prestados apoios presenciais ou à distância. Estão ainda previstos, para estes alunos, ambientes virtuais de aprendizagem. Está também prevista a designação de um interlocutor desportivo, que articula com o professor-acompanhante o processo de conciliação. Estes alunos-atletas têm ainda um psicólogo escolar que presta apoio na gestão emocional e desenvolvimento integral do aluno-atleta.
Por dentro
Dragões e leões têm parcerias - Tiago Brandão Rodrigues revelou, ao JN, que a Académica, V. Guimarães, F. C. Porto, Braga e Sporting estabeleceram parcerias para o Apoio ao Alto Rendimento na Escola.
Inspirado em Montemor-o-Velho - O modelo das Unidades de Apoio ao Alto Rendimento na Escola foi inspirado no Gabinete de Apoio ao Alto Rendimento de Montemor-o-Velho. Criado em 2009, este projeto embalou vários campeões nacionais, medalhados internacionais e alunos integrados no projeto olímpico com uma taxa de sucesso escolar acima dos 90%.