Protocolo da dor torácica, a funcionar desde novembro, permitiu resposta diferenciada das ambulâncias de emergência médica em casos de enfarte.
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Em novembro e dezembro passados, os técnicos de emergência pré-hospitalar (TEPH) do INEM fizeram eletrocardiogramas a 1507 pessoas suspeitas de enfarte do miocárdio.
Sob orientação médica, administraram fármacos a 57 doentes antes de os transportarem para o hospital para melhorar a sobrevivência e reduzir o risco de sequelas. O balanço é "positivo" e há ambição de alargar o projeto às motas do INEM.
Nos dois primeiros meses, o protocolo da dor torácica permitiu que as ambulâncias de emergência médica do INEM, tripuladas só por TEPH, dessem uma resposta diferenciada, dispensando na maioria dos casos a presença da viatura médica, que fica disponível para outras situações críticas.
"São 1500 vítimas que não teriam acesso a eletrocardiogramas na primeira abordagem", assinala Ricardo Rocha, coordenador nacional TEHP do INEM.
O protocolo só avançou com a recente aquisição de 60 monitores que fazem eletrocardiogramas e enviam os resultados para o médico do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU). E inclui a administração às vítimas de fármacos de emergência (como o ácido acetilsalicílico, conhecido por aspirina) mediante validação médica.
Em dois meses de atividade, depois do eletrocardiograma, os técnicos receberam orientação do médico do CODU para administrarem fármacos em 57 ocorrências.
São menos de 4% do total, valor que poderá estar relacionado com a novidade do protocolo ou com o facto de as vítimas poderem não apresentar sinais relevantes no eletrocardiograma, diz Ricardo Rocha.
O coordenador dos TEPH adianta que vai ser feito um estudo, com dados de dois grandes hospitais, para avaliar o impacto do protocolo na sobrevivência dos doentes e na redução de sequelas.
E há a ambição de alargar o projeto às dez motos de emergência médica do INEM para chegar a mais vítimas.
Tempos para melhorar
Um relatório do primeiro mês de atividade, a que o JN teve acesso, indica que os tempos médios entre a chegada dos técnicos ao local e a realização de eletrocardiograma foram superiores aos dez minutos internacionalmente recomendados.
"Na formação, estivemos mais focados na qualidade do eletrocardiograma, mas se conseguirmos reduzir os tempos é o ideal", acrescenta, ainda, o coordenador.
Rui Lázaro, presidente do Sindicato dos TEPH faz "um balanço francamente positivo" dos dois primeiros meses do protocolo.
"São centenas de eletrocardiogramas que, de outro modo, não seriam feitos". Porém, lamenta que o INEM não tenha comprado, logo de início, os monitores para as motas, porque são meios que "fazem muito serviço com as ambulâncias dos bombeiros e Cruz Vermelha".
Números
12
pessoas por dia, em média, morrem de enfarte agudo do miocárdio em Portugal. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte, causando cerca de 31 mil óbitos por ano.
56
ambulâncias de emergência médica do INEM estão equipadas com monitores para a realização de ECG de 12 derivações. Em 60 monitores (4 são de reserva), o INEM investiu 600 mil euros.
Saber mais
O que é um enfarte?
O Enfarte Agudo do Miocárdio ocorre quando uma artéria coronária entope, causando um coágulo que bloqueia o acesso do sangue a uma zona do músculo cardíaco, levando à morte desse tecido. Pode ser fatal ou provocar lesões graves.
Fatores de risco
O envelhecimento, o sexo e a genética são fatores de risco do enfarte que não podem ser contrariados. Mas há outros que podem ser prevenidos, como o tabagismo e a obesidade, ou controlados como a diabetes e a hipertensão.
Sintomas comuns
Mal-estar geral, com uma dor aguda no peito, intensa e que irradia muitas vezes para o braço, o pescoço ou dorso. Náuseas, vómitos e suor abundante são outros sintomas comuns.