Já podem fazer eletrocardiogramas na rua e administrar fármacos, sob orientação médica à distância. Socorro mais diferenciado vai reduzir risco de sequelas e morte de milhares de doentes.
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É um passo de gigante para reduzir o risco de sequelas e de morte por enfarte agudo do miocárdio. Os Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH) do INEM já podem fazer eletrocardiogramas na rua para detetarem enfartes e atuarem em conformidade, ganhando tempo numa corrida contra um coração em esforço.
Prometido há vários anos, o protocolo de dor torácica dos TEPH entra amanhã [segunda-feira] em funcionamento com monitores novos em 56 ambulâncias de emergência médica, o que significa um acréscimo de 64% dos meios com esta resposta mais diferenciada.
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em Portugal e o INEM recebe, em média, 17 mil chamadas para dor torácica por ano. Até aqui, só as viaturas médicas de emergência e reanimação e as ambulâncias de suporte imediato de vida estavam preparadas para dar a melhor resposta. E nem sempre estão disponíveis para acudir a todas as ocorrências.
Médico é quem decide
A partir de agora, os técnicos de todas as ambulâncias de emergência médica do país podem pôr em prática o protocolo da dor torácica, um conjunto de procedimentos para os quais receberam formação e que incluem a realização de um eletrocardiograma (ECG) e a administração de fármacos, sob orientação médica.
Um dos medicamentos protocolados é a conhecida aspirina, que ajuda a diluir o sangue e a desfazer os trombos nas artérias coronárias. Tanto a interpretação dos resultados do ECG, como a decisão de administrar fármacos, cabe exclusivamente ao médico que está no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM a receber a informação em tempo real.
A implementação do protocolo da dor torácica - um dos mais importantes da carreira dos TEPH -, esteve empatada durante alguns anos por causa de um imbróglio com a aquisição dos monitores de ECG.
O entrave foi ultrapassado com a aquisição de 60 novos equipamentos - para 56 ambulâncias de emergência médica e quatro para as delegações -, que permitem mais do que duplicar a atual resposta pré-hospitalar aos enfartes.
"É o maior ganho em saúde dos últimos anos", assegura Ricardo Rocha, coordenador nacional TEPH do INEM, satisfeito com a conquista pela qual os técnicos lutam há anos.
Menos dúvidas e viagens
Em caso de enfarte todos os minutos contam para evitar sequelas e mortes. Com o diagnóstico feito na rua e com a terapêutica iniciada, o doente chega ao hospital com a primeira parte da abordagem cumprida e com mais possibilidades de conseguir melhores resultados em saúde. Outra vantagem dos monitores é permitir detetar casos de enfarte em doentes cuja sintomatologia não é tão evidente.
E nestas situações deixa também de haver dúvidas sobre a unidade para onde o doente deve ser encaminhado, evitando-se idas a hospitais que não dispõem de resposta diferenciada, nomeadamente cuidados intensivos coronários ou sala de hemodinâmica. Mesmo nos casos em que o ECG não detete um enfarte, o protocolo determina o transporte da vítima ao hospital.
Além de transmitirem informação ao CODU, os monitores de ECG também enviam dados ao hospital, através de uma plataforma informática. "Antes de o doente chegar, os médicos já estão a ver o eletrocardiograma no computador e já sabem se tomou medicação", explica Gabriel Campos, TEPH que tem sido responsável pela formação dos técnicos. Se a via digital por alguma razão não funcionar, os novos monitores permitem imprimir o ECG para entregar ao médico no hospital.
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Primeira causa de morte
As doenças cardiovasculares são a primeira causa de morte em Portugal e têm como principais fatores de risco o tabagismo, a obesidade, a diabetes, o colesterol elevado, a hipertensão e o sedentarismo.
35 mil portugueses aproximadamente morrem todos os anos em Portugal por doenças cardiovasculares, o que corresponde a um terço de toda a mortalidade da população. Daquele total, cerca de oito mil óbitos são por enfarte agudo do miocárdio.
Obstrução das artérias
As artérias coronárias fornecem oxigénio ao coração. Quando há obstrução de uma, o sangue não passa e há uma redução de oxigénio no músculo cardíaco.
Lesões podem ser para sempre
Quando o oxigénio não chega ao coração na quantidade necessária causa lesão e morte celular de parte do músculo cardíaco. As sequelas provocam incapacidades que podem ser irreversíveis.
Sintomas de um enfarte
Dor apertada no peito com uma sensação de esmagamento; irradiação da dor para o braço, pescoço, mandíbula ou costas; dificuldade em respirar; pele pálida, acinzentada, pegajosa ou suada; desconforto abdominal, náuseas e vómitos são os principais sintomas do enfarte agudo do miocárdio.
Importância de acionar o 112
Ligar 112 é o mais indicado em caso de suspeita de enfarte: reduz o intervalo de tempo até ao início da avaliação, diagnóstico, terapêutica e agilização do transporte para o hospital mais adequado.
71 mil ocorrências para dor torácica foram registadas pelo INEM desde 2018. Destas, 97,5% motivaram o acionamento de pelo menos um meio de emergência.