Consultas à distância nos hospitais públicos aumentaram 49% em relação ao ano passado e batem recorde.
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A telemedicina já estava a crescer nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) antes de Portugal ter sido atingido pela pandemia. Nos primeiros quatro meses de 2020, foram realizadas quase 13 mil consultas à distância e, só em abril, houve um aumento de 49% em relação a igual período de 2019. A Ordem dos Médicos reconhece as vantagens, em particular na monitorização de doentes crónicos, e prepara a regulamentação da atividade.
Este recurso, usado há vários anos por especialidades como cardiologia, dermatologia ou radiologia, conheceu um incremento no período crítico do combate à covid-19. Essa experiência, facilitada pela generalização do telemóvel e pela evolução tecnológica que coloca a videoconferência ao alcance da maioria dos cidadãos, não será descartada. Muitos hospitais, como S. João (Porto), Gaia e Santa Maria (Lisboa), manterão mais de metade das consultas por essas vias.
Em abril, os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) lançaram uma nova plataforma de telessaúde: a RSE Live. Os testes decorrem no Hospital Dr. Francisco Zagalo (Ovar), no Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim/Vila do Conde e na Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano. O objetivo é colocá-la "rapidamente" ao serviço de outras unidades do país.
"A telessaúde é uma aposta do SNS, com benefícios para cidadãos e profissionais de saúde. As vantagens são evidentes, sobretudo na fase de desconfinamento em que o país se encontra, sendo uma ferramenta fundamental para evitar a probabilidade de contágio por covid-19 e para a redução das listas de espera", argumentam os SPMS.
Antes da covid-19 ter mudado a resposta assistencial do país, a telemedicina já seguia um percurso ascendente nos hospitais. Em janeiro deste ano, fizeram-se 2836 consultas à distância, mais 11,3% do que em janeiro de 2019. Em fevereiro, foram 2767, mais 31% do que no período homólogo. Em março, fizeram-se 3397 consultas (mais 44,8%) e, em abril, realizaram-se 3941 (mais 49%).
Contas conservadoras
Desde que se iniciou a monitorização no portal da transparência do SNS, não há registo de tantas consultas à distância num mês. E este número é muito conservador, pois não reflete os milhares de consultas por telefone anunciadas pelos maiores hospitais públicos.
Embora recuse chamar-lhe "consulta", o bastonário da Ordem dos Médicos reconhece que este é o momento para refletir sobre a telemedicina e as suas virtualidades, sobretudo através da videochamada. Miguel Guimarães defende o recurso à telessaúde no SNS para controlar doentes crónicos, por exemplo, evitando deslocações desnecessárias aos hospitais, que aumentam o risco de infeções. "Podemos entremear uma consulta com uma avaliação à distância, evitando que o doente tenha de deslocar-se mensalmente ao hospital. A relação médico-doente tem de ser preservada, mas as tecnologias permitem a vigilância à distância e a renovação da prescrição médica, alternando com consultas presenciais", frisa, apontando a complementaridade da telessaúde na assistência ao doente.
A Ordem está em "reflexão" e prepara um documento que servirá de base a um futuro regulamento da telemedicina, que deve ser apresentado até outubro.