Escolas aproveitam projeto para diversificar contactos com alunos, desde o 1.º ciclo aos adultos de cursos noturnos.
Corpo do artigo
Alunos que voltam ao ensino ou que se mantêm ligados graças ao #EstudoEmCasa. Há escolas a descobrir novas funcionalidades para o projeto, apesar de menos professores recorrerem por estarem mais bem preparados para o ensino à distância, defendem os diretores.
Cada aula é pensada "para todos" os alunos do país daquele ano de escolaridade e, por isso, são "mais inclusivas", defende a professora Fernanda Ló, responsável pelos blocos Hora da Leitura e Orientação do Trabalho Autónomo do 1.º ciclo.
"Em todas as aulas há um técnico de língua gestual, a letra usada nunca é inferior ao tamanho 32 por causa dos amblíopes, não usamos determinadas cores por causa de alunos daltónicos ou o verbo "ver" por causa de invisuais. Tentamos ser inclusivos em todos os momentos, o que por vezes não acontece em todas as salas de aula porque olhamos para os alunos à nossa frente", diz.
Professora de Educação Especial, Fernanda Ló tem 30 anos de serviço. Aderiu este ano à parceria entre o Ministério da Educação e a RTP e, no início, chegou "a trabalhar 18 horas por dia". "Nas aulas presenciais, preparamos matéria para 27 minutos porque sabemos que vamos ter de mandar calar os alunos. No estúdio nem somos interrompidos, nem precisamos de repetir e acabamos por dar muito mais matéria", explica.
Centro de explicações
Criado para ser uma alternativa ao ensino à distância, especialmente para alunos sem acesso às aulas online, os diretores classificam o projeto como "um instrumento complementar a que alunos e docentes podem recorrer", sublinha Filinto Lima, presidente da Associação de Diretores (ANDAEP).
Manuel Pereira, presidente da Associação de Dirigentes Escolares (ANDE), considera que pode ser uma ajuda para os alunos com exames nacionais e sem possibilidade de recorrer a explicações reverem e consolidarem matérias.
Inês Freitas Gouveia, 21 anos, de Vila do Conde, terminou o Secundário há dois anos num curso profissional de Design Gráfico. Fez dois estágios, conseguiu um contrato de trabalho, mas percebeu que "não era o que queria para o resto da vida". Este ano, começou a assistir às aulas de Português do 10.º ano e decidiu regressar ao ensino e candidatar-se ao Superior.
"Comecei a ver no confinamento e dei por mim a acordar, todas as manhãs, com vontade de ligar o computador para assistir às aulas. Para mim, é a minha professora", conta Inês, que escreveu à docente Maria João Covas a agradecer.
Impedir que os alunos se afastem do ensino é a prioridade. Marilisa Cambraia, diretora da Secundária de Camarate, resolveu aproveitar os blocos de Português Língua não Materna para os alunos adultos que frequentam o curso noturno.
"Para os restantes, é um complemento, mas para estes alunos, que não falam português, foi a solução. No ano passado, as tarefas não surtiram resultado pelas dificuldades de comunicação e falta de acesso online. Este ano, a coordenadora do curso resolveu tentar mantê-los ligados através da visualização dos blocos. Ela telefona a cada um todas as semanas e, para já, nota-os mais interessados", garante.
Os agrupamentos António Feijó (Ponte de Lima) e Daniel Sampaio (Almada) são dois exemplos de escolas que integraram no horário do 1.º ciclo a visualização dos blocos, visto que as aulas síncronas são ao início da tarde. Tanto Rosa Mota, coordenadora do 1.º ciclo do António Feijó, como Sara Moura, diretora em Almada, garantem que os blocos mais usados são Educação Física e Expressões Artísticas. As restantes disciplinas exigem maior articulação por cada turma estar em diferentes fases. "Quantos mais diversificarmos, mais hipóteses temos de manter a ligação aos alunos", insiste Sara Moura.
Opinião
Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação
O #EstudoEmCasa providencia um leque muito alargado de conteúdos escolares originais, em língua portuguesa, referentes aos diversos anos de escolaridade e áreas disciplinares. É, portanto, uma janela permanentemente aberta para o nosso sistema educativo, permitindo apoiar as aprendizagens de todos os nossos alunos, mas também de pessoas em diferentes idades e latitudes que pretendem continuar - ou voltar - a aprender em português.
Tendo constituído um espaço de experimentação e inovação, nas condições de emergência que atravessamos, constitui um produto genuíno da colaboração dos nossos professores e do nosso serviço público de televisão, adequado às orientações curriculares em vigor e que tem revelado também uma notável capacidade de aprendizagem, evidente em níveis elevados de qualidade técnica e pedagógica.
Sabemos bem que apenas nas salas de aula se cumpre plenamente o processo educativo. Mas sabemos também que temos tudo a ganhar quando os tempos, espaços e formas de aprendizagem se prolongam, complementam e diversificam.
O mundo de hoje é marcado pelo signo da incerteza, com as solicitações, necessidades e constrangimentos a surgirem de forma inesperada. Nos tempos mais recentes, isso foi visível na forma de uma pandemia que a todos nos surpreendeu. Mas diversos outros acontecimentos inesperados afetam as nossas vidas individuais e coletivas. Desta forma, é muito valioso termos este repositório que potencia a enorme capacidade comunicativa da televisão, bem como de outros meios tecnológicos, reforçando todas as possibilidades para estarmos onde estivermos e ser possível continuar a aprender.