O dia da sobrecarga do planeta chegou um dia mais tarde do que em 2022: o dia 2 de julho marca este ano o dia em que a necessidade de recursos ambientais excede a capacidade do planeta terra os fornecer. A Associação Sistema Terrestre Sustentável (ZERO) alerta para a necessidade de acelerar mudanças climáticas.
Corpo do artigo
O Dia da Sobrecarga do Planeta assinala a ocasião em que a necessidade de recursos ambientais por parte da humanidade excede a capacidade do planeta para regenerar esses mesmos recursos, tornando-se necessário utilizar os do ano seguinte, neste caso, os reservados para 1 de janeiro de 2024.
Segundo a ZERO, o dia da sobrecarga mundial tem, nos últimos 5 anos, estagnado à volta dos mesmos dias. No entanto, Francisco Ferreira lembra que a nível nacional, o dia da sobrecarga de 2023 foi assinalado a 7 de maio, o que significa que se todo o mundo tivesse a mesma relação produção-consumo que Portugal, estaríamos a consumir recursos de 2,9 planetas. A atualmente, a nível global, o consumo humano equivale a usar os recursos de 1.75 planetas.
Em conversa com o JN, o presidente da ZERO, Francisco Ferreira afirma que o ideal seria “que a humanidade consumisse o que o planeta gera”, visto que o ser humano tem vindo a consumir mais do que produz. O facto do dia de sobrecarga de Portugal ser muito mais cedo do que o mundial deve-se ao facto de a biocapacidade do país ser menos - a biocapacidade significa a capacidade que uma área tem de produzir recursos renováveis e de absorver e/ou filtrar resíduos produzidos. Francisco Ferreira afirma que deve haver maior consciencialização de consumo e dá alguns exemplos: “deve-se comer pêssegos na sua época e as outras frutas nas suas alturas para que a importação seja menor”.
O presidente da ZERO explica que o facto de o dia da sobrecarga ser assinalado cada vez mais cedo desde 1971 deve-se à sobre-população, ao excesso de desperdício nos países mais desenvolvidos e ao facto de o ser humano estar a “destruir muitas das fontes que dão recursos”. Explica que ao longo dos anos tem havido “muitos incêndios que destroem os campos, mas que também existe a sobre-exploração de terrenos agrícolas”, ou seja, há casos que “têm a haver com excesso de consumo e de exploração agrícola, outros em que o ser humano destrói as fontes de recursos”.
Segundo o presidente da Zero, as soluções envolvem limitar o consumo e desperdício, “viver na suficiência e não no que acabamos por usar, que é demasiado”, não sobre-explorar, sobre-caçar ou pescar, e que os Governos tenham uma visão a médio-longo prazo na utilização dos recursos.
Individualmente, afirma que o papel de todos os cidadãos para melhorar a situação passa por reduzir o consumo e o desperdício, reduzir o uso da energia (em casa, mas também em automóveis, dando preferência a transportes públicos), criar uma economia de partilha (em vez de comprar uma máquina de lavar roupa, ir a lavandarias), e saber consumir, privilegiando o que é local ou nacional e produzido na época.
O presidente da ZERO afirma ainda que “pessoas e empresas têm responsabilidades mas as empresas têm responsabilidades sociais e ambientais acrescidas e não as estão a assumir devidamente, nomeadamente nos investimentos em energias renováveis e numa mobilidade sustentável, inclusive junto dos seus trabalhadores. Pagam carro ou combustíveis ou asseguram estacionamento e não têm muitas vezes políticas dos bens e serviços que produzem e vendem, para que cumpram verdadeiros critérios de sustentabilidade”.
Acelerar o passo
A ZERO afirma que “a Humanidade tem de acelerar o passo e promover as mudanças necessárias de forma a reduzir o impacte que as suas atividades e necessidades têm sobre a capacidade de carga do planeta”.
O Dia da Sobrecarga Mundial é calculado pelo Global Footprint Network.Nos últimos 50 anos, o Dia da Sobrecarga do Planeta tem sido cada vez mais cedo. Em 1971 era no fim de dezembro, uma década mais tarde já estava nos primeiros dias de novembro, em 1997 chegou a setembro, e em 2010 chegou aos primeiros dias de julho, e atualmente está no mesmo lugar, a 2 de julho.
Segundo a ZERO, a redução da pegada de carbono em 50% permitiria tardar a data até 93 dias; a redução da pegada ligada à mobilidade em 50%, se “um terço dos quilómetros fossem substituídos por transporte público e os restantes pela bicicleta e andar a pé”, o que acrescentaria mais 13 dias; e a redução do consumo de carne em 50% adicionaria 17 dias. Todos estes fatores juntos colocariam o Dia da Sobrecarga do Planeta no primeiro dia de novembro e se fossem adicionada a utilização de fontes renováveis de energia para 75% das necessidades mundiais de eletricidade, o dia passaria para 28 de novembro.