Um teste poligénico, a um conjunto de genes, pode ser a solução para identificar mulheres que têm o risco de vir a ter cancro da mama, mas estão abaixo da idade mínima prevista nos rastreios da doença (atualmente os 50 anos). A solução vai ser testada por uma equipa de especialistas do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), no âmbito de um estudo clínico europeu que será apresentado, esta segunda-feira, em Lisboa.
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O estudo clínico europeu BRIGHT (Be RIGHT with cancer risk management), financiado pelo Instituto Europeu da Inovação e da Tecnologia, irá analisar os testes aos genes de milhares de mulheres jovens em Portugal, Espanha, Estónia e Suécia com o objetivo de identificar o risco da doença e contribuir para um possível rastreio individualizado.
Em Portugal, o Hospital Santa Maria será o único a disponibilizar este teste poligénico e pretende abranger entre 750 a mil mulheres voluntárias de todo o país, que tenham entre 35 e 50 anos, sejam saudáveis e não tenham história prévia de cancro da mama. Haverá uma linha telefónica para receber inscrições, sujeitas a uma avaliação por consulta médica.
Atualmente, mulheres mais jovens podem ser referenciadas através de consultas de genética a uma avaliação quando, devido aos antecedentes familiares, há a suspeita de serem portadoras de mutações monogénicas (de um gene), como é o caso dos BRCA, explicou, ao JN, Luís Costa, diretor do departamento de oncologia do CHULN.
No entanto, representam apenas 10% dos casos de cancro da mama, o que significa que deixam de fora "muitas mulheres que até podem ter história familiar de cancro de mama, sem nenhum teste monogénico positivo, o que não quer dizer que não possam ter um risco aumentado para desenvolver a doença", aponta o médico e coordenador do estudo em Portugal. "Este teste poligénico pode ajudar a identificar esse risco".
O oncologista lembrou que o rastreio de cancro da mama de base populacional irá começar mais cedo aos 45 anos e prolongar-se-á até aos 74 anos, mas não abrange as mulheres mais jovens. Os resultados do estudo podem vir a reforçar a importância de um rastreio antecipado.
As mulheres voluntárias podem também fazer uma mamografia, cujo resultado irá acompanhar o do teste poligénico - feito através da colheita de saliva para analisar o ADN -, assim como uma carta de acompanhamento para entregar ao médico assistente (se possível o médico de família) para gestão de risco futuro da doença, caso seja necessário. O teste genético permite classificar se a mulher tem um risco igual ao da população em geral ou se tem um risco mais elevado.
O estudo é apresentado esta segunda-feira, a partir das 14:30 horas, na Aula Magna da Faculdade de Medicina de Lisboa.