Objetivo da DGS é que mais pessoas façam o diagnóstico e sejam devidamente encaminhadas. Projeto-piloto de Cascais vai ser aos poucos alargado a todo o país. Porto será o próximo destino.
Corpo do artigo
Entrar numa farmácia, comprar um teste do VIH sem apresentar receita e depois fazê-lo em casa vai ser possível já no início de 2019. O autoteste é o próximo passo do projeto que disponibilizou, pela primeira vez, testes rápidos ao VIH e à hepatite C nas farmácias. O projeto-piloto arrancou a 10 de outubro em Cascais, com testes feitos por farmacêuticos. Num mês, foram 130.
"É muito bom sinal", diz Isabel Aldir, diretora do Programa Nacional para a Infeção VIH/sida da Direção-Geral de Saúde (DGS), que explica que o número de testes realizados no primeiro mês do projeto revela que "há quem se sinta confortável a fazer o teste na farmácia, assim como há quem prefira o centro de saúde". "Temos de encontrar soluções para diferentes populações e realidades", afirma, hoje, que é Dia Mundial da Luta contra a Sida. O projeto-piloto Fast Track Cities Cascais arrancou em 22 farmácias do concelho e, num mês, farmacêuticos formados para o efeito fizeram 58 testes à hepatite C e 72 ao VIH. Nenhum deles teve resultado positivo.
Para já, o teste é gratuito. Mas a ideia é alargar o projeto ao resto do país e aí poderá passar a ter um custo. Segundo Isabel Aldir, "o objetivo é fazer formação a mais profissionais para se estender a outras farmácias". Até agora, foram formados 28 farmacêuticos de Cascais, mas fonte da Ordem dos Farmacêuticos revelou que, até ao fim do ano, haverá um quadro formativo referencial pelo qual entidades externas e a própria Ordem, através das secções regionais, poderão promover formações.
Farmácias têm critérios
Há pedidos de farmácias de todo o país e prevê-se que, já no início de 2019, o projeto seja alargado ao Porto. Mas a Associação Nacional das Farmácias pretende que todas as 2750 farmácias suas associadas o venham a disponibilizar. "É um processo de adesão facultativo. Uma farmácia que queira comercializar os testes tem que cumprir condições de espaço e profissionais formados para o efeito", explica Aldir, que adianta que a DGS quer ir mais longe e lançar os testes de autodiagnóstico em janeiro. Em vez de a pessoa fazer o teste na farmácia, acompanhada por um profissional, poderá comprá-lo e fazê-lo em casa.
Neste momento, DGS, Infarmed, Administração Central do Sistema de Saúde, INSA e Serviços Partilhados do Ministério da Saúde estão a trabalhar na forma de implementação. "Em cada teste, a informação tem que ser clara. Se houver um resultado reativo, a pessoa deve saber como proceder, para que não se depare com o resultado e fique perdida", explica Isabel Aldir, que alerta para a importância do diagnóstico precoce.
"Uma pessoa diagnosticada e em tratamento tem uma vida idêntica à da população em geral. E isto reforça a importância de saber se vive ou não com a infeção. Uma pessoa com infeção controlada não transmite infeção por via sexual a ninguém", insiste.
A venda de autotestes para o VIH e hepatites B e C em Portugal passou a ser possível depois de uma mudança na lei no mês passado. "Era permitida a venda de autotestes, por exemplo, para a gravidez, mas não para o VIH", diz Aldir. O decreto-lei indica que os autotestes podem ser vendidos em farmácias e parafarmácias sem receita médica. A medida está em vigor noutros países desde 2015, caso da França e do Reino Unido.
EM PORMENOR
Como é lá fora
Os testes de autodiagnóstico estão disponíveis nas farmácias de Espanha desde o início do ano, mas também em França, Bélgica, Itália ou Reino Unido. Custam entre 20 e 35 euros. No Reino Unido, em agosto, a Superdrug tornou-se a primeira grande cadeia de beleza e saúde a comercializar autotestes do VIH.
Diagnósticos tardios
Mais de metade dos novos diagnósticos de VIH são tardios e isso acontece, maioritariamente, nos heterossexuais. Quase 10% do total de portadores do vírus em Portugal não sabem estar infetados.
58 mil com VIH
Desde 1983 e até ao fim do ano passado, em Portugal, foram diagnosticados quase 58 mil casos de infeção por VIH. O país continua a apresentar das mais elevadas taxas de novos diagnósticos registadas na União Europeia.
39 mil testes rápidos feitos no ano passado em centros de saúde, centros de aconselhamento e deteção precoce do VIH (CAD) e centros comunitários. O número tem vindo a aumentar ao longo dos anos, à exceção dos CAD, cuja atividade tem vindo a diminuir por escassez de recursos humanos.
1068 novos diagnósticos por infeção VIH em 2017, a maioria em pessoas entre os 25 e os 29 anos e em homens que têm sexo com outros homens. Em 2017, 261 pessoas morreram com VIH, 134 delas em estádio sida.