Associação dos Miúdos Especiais com Muita Lata, na Murtosa, quis ir mais além do que a escola oferecia. Hoje, disponibilizam a sua sala de estímulos sensoriais também a idosos e a outras crianças com necessidades especiais da comunidade escolar.
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Se há meia dúzia de anos, na Murtosa, pouco se falava sobre autismo, hoje, a comunidade não passa ao lado do problema. Tudo porque um grupo de pais e de professores, do agrupamento de escolas local, teve a "lata" de dar a conhecer os transtornos do espectro do autismo e de colocar as crianças e jovens que têm esse problema no mapa do município. Aliás, já não há Natal em que não sejam trocados presentes, entre familiares e amigos, com "mão" desses miúdos especiais, afinal tão normais na sua diferença.
Tudo começou em 2015, numa unidade de ensino especial do agrupamento, dedicada aos transtornos do espectro do autismo. "Nós e os pais queríamos mais do que a escola, com as suas limitações financeiras, podia proporcionar a estes meninos. Por isso, precisávamos de um fundo de maneio. Um exemplo simples: estas crianças precisam de fazer trabalhos com cor e só podíamos tirar fotocópias a preto e branco", recorda Celeste Dias, professora de ensino especial da escola.
Com uma parceria com a Comur, no Natal de 2015, surgiu o primeiro projeto: a conserveira ofereceu latas com conservas e os meninos personalizaram-nas, com desenhos, para serem vendidas e angariar fundos. A partir daí, as iniciativas nunca mais pararam. Com uma particularidade: o bom gosto, o design e o carinho imprimido em cada projeto.
Caminhada pelo autismo
As duas salas da unidade - com crianças do Pré-escolar ao Secundário - começaram a ser equipadas. Computadores, tablets e outros materiais foram adquiridos. E veio um desejo ambicioso: ter uma sala Snoezelen, para terapia sensorial, que custava 40 mil euros. "Já vendemos patês, canecas com desenhos feitos por eles e calendários. Participamos em feiras de comes e bebes. Vamos a todas", brinca Mónica Pinho, outra das professoras que tomaram a causa como suas. "A Câmara, parceira fundamental, financiou metade da sala Snoezelen. O resto angariámos nós", diz Celeste.
O dinheiro manuseado, entretanto, obrigou à constituição de uma associação, em novembro de 2016. Hoje, os "miúdos com muita lata" disponibilizam a sua sala de estímulos sensoriais também a idosos e a outras crianças com necessidades especiais da comunidade escolar. Organizam, anualmente, uma "Caminhada pelo Autismo", que conta com mil inscrições. O trabalho da escola e da associação funde-se. Mas é através dos fundos da associação que as crianças têm acesso, por exemplo, a hipoterapia, o ioga e a expressões plásticas, a título gratuito. Neste Natal, há um novo produto para ajudar: mel, da Bee Sweet. Biológico, com canela ou picante. Doce só de pensar. Como os sorrisos das crianças.