Entre 2021 e 2022 as queixas contra os médicos cresceram cerca de 27%, para um total de 1672. No último ano, 28 médicos foram suspensos por decisão da Ordem dos Médicos e houve uma média de cinco participações por dia.
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De acordo com os dados da Ordem dos Médicos cedidos à Rádio Renascença, as queixas contra os médicos tiveram uma subida significativa entre 2021 e 2022, de 27%, enquanto entre 2020 e 2021 as participações subiram apenas 1%.
Em 2022 foram instaurados 1672 processos contra médicos, mais 342 do que no ano anterior. Em média são apresentados mais de cinco processos por dia. No total foram castigados 131 médicos com penas disciplinares, o que corresponde a uma subida de 8% face a 2021. Ainda em 2022 foram suspensos e expulsos 28 profissionais, sendo que sete deixaram de poder exercer a profissão.
Durante os três anos foram apresentadas 4585 participações, sendo que a maioria ocorreu no Sul, seguindo-se o Norte e por fim o Centro, e foram ainda aplicadas 354 penas disciplinares a médicos. No entanto, desde 2020 as penas aplicadas contra médicos aumentaram no Sul e no Centro.
Em declarações à Rádio Renascença, Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos afirma que estes números "não têm a ver com a degradação da prática médica". "Até porque cada vez mais a formação médica é exigente em Portugal e reconhecida fora de Portugal. Tem havido da parte da Ordem dos Médicos e dos próprios médicos, um esforço muito grande em termos de formação e diferenciação. Não há nenhuma evidência de que os médicos sejam menos eficientes, ou tenham menos formação", acrescenta.
No entanto refere que "o SNS está a passar uma das fases mais delicadas, mais difíceis, da sua existência. Isso reflete-se nas condições que os médicos têm para exercer a sua profissão. Os doentes acabam por estar insatisfeitos e direcionar esse sentimento para os médicos".
Canal de denúncias
Em declarações ao Diário de Notícias, o bastonário da Ordem do Médicos admitiu que a Ordem está "a trabalhar para que seja criado um canal seguro e confidencial para que possam ser feitas queixas de forma anónima". Acrescentou que essas queixas serão posteriormente analisadas e "se for caso disso, haverá uma intervenção da Ordem".
"O papel da Ordem dos Médicos é defender a qualidade dos cuidados de saúde em Portugal, e colocarei ao dispor todos os instrumentos que a Ordem tem para cumprir eficazmente e de forma reconhecida esse papel, doa a quem doer e independentemente do responsável", sublinha o bastonário.
Para Carlos Cortes, a Ordem tem uma obrigação para com o país e para com a sociedade de proteger a qualidade dos cuidados. "E é isso que vai fazer e que a nova direção, neste curto espaço de tempo, já está a desenvolver", ressalva.