Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se convencido de que haverá condições de governabilidade, após audiências com os três maiores partidos. PCP anunciou moção de rejeição ao programa do Governo da AD.
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Os principais líderes da Oposição, que ainda correm pelo segundo lugar, levaram a Belém promessas de estabilidade, mas sem se comprometerem com o programa de Governo da AD, que o PCP vai submeter a uma moção de rejeição, forçando todos a clarificarem o seu posicionamento. Embora tenha dito que “o Chega nunca será força de bloqueio”, André Ventura anunciou um governo-sombra a pensar já numas próximas legislativas. Na hora da despedida, uma vez que deixa a liderança do PS no sábado, Pedro Nuno Santos defendeu que “a situação política estabilize rapidamente”. Carlos César vai propor eleições diretas em junho.
Marcelo Rebelo de Sousa terminou as primeiras audiências convencido de que “vamos ter estabilidade”. “Eu acho que correu bem, qualquer das três. Vamos ver, isto continua. Os três continuam para a semana”, acrescentou, referindo-se às reuniões desta terça-feira com os líderes do PSD, do PS e do Chega.
Quando está confrontado com dois cenários – uma AD presa ao Chega ou aproximação a uma nova liderança do PS mais moderada –, o presidente da República deu sinais de que acredita nesta segunda via, desde logo ao defender uma segunda ronda de audiências, de forma a dar “mais tempo” ao PS para que defina a sua posição quanto à viabilização do programa de Governo. José Luís Carneiro, apologista do “espaço do centro moderado”, já se assumiu como candidato.
A primeira ronda começou esta terça-feira com uma AD reforçada e com PS e Chega empatados no número de deputados. Se aos 58 da extrema-direita se somarem dois da emigração, Ventura será líder da Oposição.
Luís Montenegro reuniu-se com Marcelo durante uma hora, mas quase não respondeu aos jornalistas. Na véspera, dirigentes falaram de linhas vermelhas. O secretário-geral do PSD, Hugo Soares, disse que vão “dialogar com todos”, admitindo negociações com o partido de Ventura. O “não é não” só continua no que toca “a integrar um elemento do Chega no Governo”. “A receita para haver estabilidade passa por todos”, disse Leitão Amaro. Para o ministro da Presidência, o “não é não” é uma formulação que se “mantém”, aplicando-se a “coligações de Governo ou bases de apoio e formação de maiorias de Governo”.
“Rápida clarificação”
Pedro Nuno ainda foi à primeira audiência. No sábado, há reunião da Comissão Nacional do PS. Carlos César ficará como líder interino e vai propor diretas para junho, calendário não consensual. Francisco Assis defendeu que sejam após as autárquicas. Pôs-se de fora da corrida, tal como Alexandra Leitão, que promete foco nas autárquicas.
“Desejamos que o país rapidamente tenha a sua situação política clarificada para lhe dar um rumo e resolver os problemas dos portugueses”, afirmou Pedro Nuno Santos, garantindo que foi uma “boa reunião” com Marcelo, embora tenha durado menos de 20 minutos. Desejou ainda que “a situação política estabilize rapidamente e que o país possa fazer o seu caminho”.
Executivo “alternativo”
Depois de, na noite eleitoral, ter dito que não vai parar até ser Governo, Ventura assegurou esta terça-feira que será um “garante de estabilidade” e “nunca uma força de bloqueio”. Mas tal não o impediu de anunciar um governo-sombra, em que os membros da sua equipa estarão empenhados nas bandeiras do partido.
“Apresentaremos um Governo alternativo e assumiremos o estatuto de líder da Oposição, mas não deixaremos que o país caia numa nova crise política e procuraremos ser farol e garante da estabilidade”, afirmou. Mas não “a qualquer custo”, ressalvou, sem dizer se viabiliza o programa da AD.
Após a audiência de 40 minutos, defendeu “uma estabilidade que continue a combater a corrupção, que combata a imigração descontrolada e permita um crescimento económico que dê salários e dignidade a quem trabalha, aos pensionistas, não a quem não faz nada”.