
Português Tolentino Mendonça também foi investido cardeal
Yara Nardi/Reuters
O Papa Francisco criticou o "hábito da indiferença" e pediu aos novos cardeais, entre os quais o português Tolentino Mendonça, compaixão, que definiu como "requisito essencial".
Tolentino Mendonça, 53 anos, foi investido cardeal, este sábado, numa cerimónia no Vaticano, tornando-se no sexto cardeal português deste século e no 46.º da História.
O arquivista e bibliotecário do Vaticano recebeu o anel e barrete cardinalícios, assim como a bula, cerca das 15.30 horas, numa cerimónia na Basílica de São Pedro, que começou meia hora antes (16 horas locais).
"A disponibilidade de um purpurado para dar o seu próprio sangue - significado na cor vermelha das suas vestes - é certa, quando está enraizada nesta consciência de ter recebido compaixão e na capacidade de ter compaixão. Caso contrário, não se pode ser leal", afirmou Francisco durante a cerimónia de investidura dos 13 novos cardeais (10 eleitores e três não eleitores num futuro conclave).
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O líder da Igreja Católica disse na homília que "muitos comportamentos desleais de homens da Igreja dependem da falta deste sentimento da compaixão recebida e do hábito de passar ao largo, do hábito da indiferença".
Antes da imposição do barrete cardinalício, o Papa argentino questionou mesmo os futuros cardeais se têm viva a consciência desta compaixão, que não é uma "coisa facultativa" ou um "conselho evangélico".
"É um requisito essencial. Se não me sinto objeto da compaixão de Deus não compreendo o seu amor. Não é uma realidade que se possa explicar, ou a sinto ou não", continuou o Papa, acrescentando: "E, se não a sinto, como posso comunicá-la, testemunhá-la, dá-la?".
Muitas vezes, os discípulos de Jesus dão provas de não sentir compaixão
"Concretamente, tenho compaixão pelo irmão tal, pelo bispo tal, pelo padre tal? Ou sempre destruo com a minha atitude de condenação, de indiferença?", perguntou Francisco.
Antes, o Papa referiu que, "muitas vezes, os discípulos de Jesus dão provas de não sentir compaixão", notando que basicamente dizem "que se arranjem".
"É uma atitude comum entre nós, seres humanos, mesmo em pessoas religiosas ou até ligadas ao culto. A função que desempenhamos não basta para nos fazer compassivos, como demonstra o comportamento do sacerdote e do levita que, vendo um homem moribundo na beira da estrada, passaram ao largo", prosseguiu, citando um excerto do Evangelho de São Lucas a propósito de um grupo de leprosos.
Francisco assinalou ainda que aqueles terão dito para consigo "não é da minha competência", lamentando que haja "sempre justificações - às vezes até se tornam lei, dando origem a descartados institucionais".
Para o Papa, "deste comportamento muito humano, demasiado humano, derivam estruturas de não compaixão".
À posse de Tolentino Mendonça assistiram dezenas de portugueses e, em representação do Governo, a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, assim como o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque.
