Os trabalhadores da Imprensa Nacional da Casa da Moeda convocaram plenários no Porto e em Lisboa para falar sobre os salários baixos, a falta de progressão na carreira e a estagnação do subsídio de refeição. Durante a tarde desta quarta-feira, exigiram "ser tratados como pessoas e não como números".
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Durante 11 anos os trabalhadores da Imprensa Nacional da Casa da Moeda (INCM) não conheceram aumentos nos seus salários. No ano passado ainda houve um acréscimo salarial, mas não foi igual para todos. A esta situação, juntam-se os 14 anos sem aumentos no subsídio de alimentação. Estando as instalações do Norte localizadas numa zona histórica do Porto, os 6,10 euros não são suficientes, consideram os trabalhadores.
Como forma de protesto, os trabalhadores organizaram esta quarta-feira aquele que foi o segundo plenário dos trabalhadores da INCM do Norte. O primeiro foi no dia 6 de março. À mesma hora, em Lisboa, os trabalhadores uniram-se em protesto, enquanto aguardavam pela hora da reunião entre sindicatos e a administração.
A maioria trabalha na empresa há mais de 30 anos e nunca esperou ter de sair à rua para protestar. Alguns dos manifestantes - cuja identidade pediram para não ser revelada -, queixaram-se ao JN de haver “dinheiro para tudo, menos para os trabalhadores”.
Em matéria de salários referiram que “80% dos trabalhadores recebem 900 euros, mas o ordenado médio da empresa é de 1900 euros”, questionando ainda como se justifica este fenómeno.
A progressão de carreira é inexistente e os avanços no salário mínimo foram tão lentos que acabaram por absorver o ordenado de quem trabalha na INCM, esclareceram ao JN, exigindo ser “tratados como pessoas e não como números”.
É o caso de José Lemos que trabalha na INCM há 23 anos e acredita estar na hora de “passar da palavra à ação”. Apesar de considerar a atitude da administração para com os trabalhadores “simpática” até à data, reclamou esta tarde por melhores condições , nomeadamente de vencimentos.
“Trabalhador satisfeito rende mais”, acrescentou José Lemos durante a manifestação em que esteve presente Alfredo Maia, eleito deputado pelo PCP à Assembleia da República.
Inês Borges, dirigente sindical da Sinttav, diz que a empresa está a “fazer ouvidos moucos às reivindicações” e que se contentou com o patamar em que está. Ao JN referiu ainda a polivalência nas carreiras como um dos motivos que levaram os trabalhadores a sair à rua, alertando para o facto de que “substituir pessoas com anos de casa é perder a qualidade do serviço”.
Segundo o dirigente sindical da Site-Norte, Paulo Ricardo, a “reposição do poder de compra é fundamental”, destacando a perda gradual de direitos que os trabalhadores foram sofrendo.
“Fazemos a luta para que a nossa voz chegue até eles [administração]”, afirmou uma das trabalhadoras, com esperança que haja uma mudança de atitude e que tenham sido apresentadas propostas na reunião com a administração esta tarde.
Administração: "Salário médio é 2084 euros"
A administração da Imprensa Nacional da Casa da Moeda rejeita as críticas. Contactada pelo JN, respondeu que "desde 2017, data em que a lei do Orçamento de Estado permitiu, que os salários de todos os trabalhadores da INCM têm sofrido atualizações em sede de negociação com as associações sindicais". Apresenta como como exemplo "o caso mais recente, em 2023, que se traduziu num aumento de 80 euros para os trabalhadores que auferiam até 1238 euros de salário; e 53 euros para os restantes trabalhadores. Isto, além das progressões associadas à antiguidade".
Em relação ao subsídio de alimentação, a INCM diz que "não tem sido objeto de revisão uma vez que o valor está acima do valor atribuído aos trabalhadores em funções públicas e os principais edifícios da empresa dispõe de refeitórios".
A INCM também rejeita que haja muitos trabalhadores a ganhar apenas 900 euros. "Os valores referidos não correspondem à realidade. Atualmente, num universo de 725 trabalhadores, apenas um trabalhador recebe abaixo de 900 euros e somente 56 trabalhadores ganham abaixo dos 1200 euros. O salário médio na INCM, em 2023, foi de 2.094,47 euros".