<p>Hoje é o Dia Europeu de Luta contra o Tráfico de Seres Humanos. Em Portugal, foi a Conferência dos Institutos Religiosos (CIRP) quem criou, em 2007, uma Comissão de Apoio às Vitimas de Tráfico (CAVITP) com a finalidade de conhecer e enfrentar as causas estruturais desse fenómeno no Mundo e, em particular, no nosso país. A Comissão tem como objectivo específico a sensibilização da sociedade e da própria vida religiosa das consagradas, a fim de ajudar a tomar consciência daquele grave problema, bem como o empenhamento no combate a esse crime contra a dignidade humana, protegendo e acolhendo as vítimas.</p>
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A ideia original nasceu por iniciativa da União Internacional de Superioras Gerais (UISG), organismo que congrega as congregações religiosas femininas, com sede em Roma. Criou recentemente uma iniciativa chamada "Religiosas em Rede contra o Tráfico de Pessoas". É formada pelas congregações religiosas femininas que se dedicam ao acolhimento e protecção às vítimas do tráfico de pessoas nos quatro cantos do Mundo.
Fenómeno de enorme complexidade, o tráfico de seres humanos desenvolve-se, como diz a secretária da CAVITP, Irmã Maria Júlia Bacelar, num "clima obscuro e silencioso, o que fomenta a sua 'invisibilidade', convertendo-o num dos negócios mais lucrativos do Mundo. Essa 'invisibilidade' dificulta enormemente o combate a este crime, bem como o resgate das vítimas desta actividade perversa, lançando-as no esquecimento da sociedade".
Organizações internacionais, públicas e privadas, e igrejas não poupam condenações àquela actividade criminosa, qualificando-a de "vergonhosa, deplorável e abominável". É uma grave violação dos direitos humanos, na medida em que, nesse hediondo negócio, existem práticas de esclavagismo.
A camuflagem desse fenómeno, envolto no manto de silêncio que paira a nível social, dificulta a identificação das vítimas e a aproximação à sua deplorável realidade. Quando dão por ela, estão asfixiadas na exploração, seja laboral ou sexual. No caso das crianças e das mulheres quando traficadas com fins de exploração sexual, são obrigadas a sobreviver no medo, condenadas a um silêncio constrangedor. São o elo mais fraco no meio de tal xadrez criminoso, presas fáceis de predadores sem escrúpulos e que nadam em rios de dinheiro obtido em negócio sórdido.
Custa a Portugal ouviro clamor das vítimas
O Relatório da ONU de 2006 afirmava "… na prática, nenhum país no Mundo está livre do crime do tráfico de pessoas para exploração sexual e/ou laboral". Portugal teima em negar, oficialmente, a existência entre nós de vítimas desse flagelo execrável, preferindo falar em prostituição, negócio do sexo, alterne, lenocínio. No entanto, as organizações que vão ao encontro das vítimas para as ajudar deparam-se com o seu olhar apavorado e com pedidos de libertação. Quem escuta esse clamor para o curar?