Lembrar as vítimas para que ninguém se esqueça dos abusos levados a cabo por membros da Igreja Católica: é o pedido do grupo ThisIsOurMemorial, que vai colocar esta semana três cartazes em Lisboa, Oeiras e Loures, onde, com as cores da JMJ, se poderá ler “4800+ crianças abusadas pela Igreja Católica em Portugal".
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A ideia dos cartazes surgiu a propósito do memorial às vitimas de abuso, que, apenas quatro meses após ser anunciado em março, acabaria adiado e não ter presença na JMJ, algo que o grupo considera ser o silenciamento dos abusos.
Em conversa com o JN, Telma Tavares, membro deste grupo, afirma que os cartazes pretendem “consciencializar os peregrinos [da Jornada Mundial da Juventude (JMJ)] para o que aconteceu e partilhar os dados” do relatório publicado a 13 de fevereiro de 2023 pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, que confirmou mais de 4800 casos de abusos sexuais de menores por membros da Igreja.
O grupo afirma, no seu website, que “nada poderá corrigir ou reparar a experiência e a vida destas mais de 4800 vítimas”, o que se pode e deve fazer “é lembrá-las. Dar-lhes voz. Para que o que aconteceu jamais volte a acontecer”. Argumentam que não se pode “dar voz ao silêncio para que, a seguir, se insista em voltar a silenciar as vítimas de abuso”.
Angariação de fundos
De fundo branco e com as cores da JMJ - vermelho, amarelo e verde - o destaque dos cartazes está no número 4800, apontado como o número de vitimas de abusos sexuais pela Igreja Católica nos últimos 70 anos. Estará a vermelho e em forma de pontos, de forma a mostrar a magnitude do número.
Com o nome “This is our memorial”, em português, Este é o nosso memorial, o grupo pretende mostrar que, apesar de o memorial oficial ter sido adiado, não se esquecerão das vitimas e este é o seu memorial. Assim, o grupo pretende denunciar “o silêncio ensurdecedor”, “lutar contra o apagar das vítimas da agenda mediática, focada na celebração da instituição que as remete ao silêncio” e “trazer para a luz do dia aquilo que querem que fique atrás de uma porta fechada e de um sorriso paternalista”. Pedem que a população portuguesa não se esqueça das vítimas e do encobrimento dos casos de abuso.
Com quase 300 apoiantes, numa plataforma de angariação de dinheiro, o grupo conseguiu juntar a verba necessária para um cartaz em apenas duas horas e meia. No dia seguinte o valor duplicou, para um total de 2226 euros, pelo que investiram num segundo cartaz, e, mais tarde num terceiro. A impresão dos três cartazes deverá ficar por 2655 euros.