Em apenas um mês, o total de doentes internados com covid-19 aumentou quase 142%. Entre 30 de dezembro e 31 de janeiro, passou de 2840 para 6869 pessoas a receber cuidados hospitalares (865 em cuidados intensivos).
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Mas nas idades mais jovens o aumento está a ter mais peso, apesar de a grande maioria dos doentes internados estarem nas faixas etárias a partir dos 70 anos (representavam 59% do total em janeiro e 64% em dezembro). Até aos 39 anos, mostram os dados da Direção-Geral da Saúde, cedidos ao JN, o número de doentes praticamente triplicou, passou de 76 para 219 (188%). Em cuidados intensivos, o número mais do que duplicou, de 14 para 32. Dos 20 aos 39 anos, os internamentos no geral subiram três vezes mais, de 58 para 186.
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Se apenas forem contados os jovens entre os 20 e os 29 anos, o crescimento é de 511% (de nove para 55). E nas idades mais ativas, ou seja, entre os 20 e os 59 anos, o crescimento foi de 184% (mais 877 do que os 477 internamentos de dezembro). A partir dos 60 anos, o crescimento abranda em termos percentuais, mas não nos números totais: são mais 134% (de 2345 para 5481).
Fernando Maltez, diretor do Serviço de Infeciologia do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, considera que o aumento tem sido proporcional em relação ao crescimento dos casos de infeção nos diferentes grupos etários. "Comparativamente à primeira onda talvez existam infetados mais jovens, mas não são de maneira nenhuma o grupo prevalente", frisa o especialista, destacando que o maior grupo de internados do serviço que dirige tem mais de 50 anos, a média de idades é de 73, e o maior número de doentes continua a estar "acima dos 80 anos".
Sem doenças associadas
Em relação aos doentes mais jovens, o médico revela que "alguns não têm comorbilidades associadas, nem se conhecem antecedentes que façam pensar em risco aumentado para a infeção", como doença cardíaca, renal, diabetes, que "até há data eram saudáveis". Porém, destaca que estas características também se encontram em pessoas com mais de 50 anos.
Margarida Tavares, infecciologista no Hospital de S. João, no Porto, considera que esta subida acompanha a das faixas mais altas e que se deve ao crescimento da infeção verificada em janeiro.
"Não acho que o perfil tenha mudado", sublinha, acrescentando que nos doentes mais jovens a doença associada mais frequente é a obesidade mórbida. No que diz respeito à recuperação, a médica adianta que os mais novos têm maior capacidade para recuperar. Mas, quando o seu estado se agrava "evoluem muito mal", e a cura pode ser muito demorada.
Nos cuidados intensivos, as idades com maior aumento percentual são as dos 40 aos 49 anos e entre os 50 e os 59 (126% e 145%, respetivamente). Os doentes com mais de 80 anos, desceram de 33 para 20 (-39%). Margarida Tavares explica que nos mais idosos, "muitas vezes, já nem sequer se entende haver benefício clínico em tratamentos mais agressivos como a ventilação invasiva".
Na mortalidade, os óbitos em idades mais jovens também cresceram. Entre os zero e os 39 anos, o número de mortes subiu de 22 para 43. Mas mais de metade das vítimas mortais estava acima dos 80 anos (68% do total em dezembro e 67% em janeiro).