Há cerca de um ano, Gonçalo Potier Dias decidiu trocar os tempos de espera dos transportes públicos pelas trotinetas elétricas partilhadas em Lisboa. "Comecei a utilizar as trotinetas porque poupo tempo, comparando com o metro. De trotineta demoro quase 12 minutos de casa até à faculdade", conta ao JN o jovem de 23 anos.
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Todos os dias, se encontrar uma trotineta estacionada perto de casa, na zona do Saldanha - o que não é difícil, a "oferta é muita", diz - facilmente escolhe uma para seguir viagem em direção à Faculdade de Ciências da Universidade Lisboa, no Campo Grande, onde estuda Matemáticas Aplicadas.
"É um percurso que consigo fazer maioritariamente pelas ciclovias", aponta, sendo estas das vias recomendadas pelas operadoras. Só se estiver atrasado para as aulas é que não circula pelas ciclovias de acesso, mais longas do que os "atalhos" que conhece. "Ando encostado aos passeios, nunca em cima", diz, reconhecendo que "é desconfortável para quem passa a pé".
A uns metros da entrada da faculdade existem parques de estacionamento onde pode deixar a trotineta. É aí que termina o trajeto. "Mesmo noutras deslocações, estaciono sempre nas zonas que as aplicações recomendam", confessa, revelando que escolhe a operadora que esteja mais próxima. E por ser tão "confortável", esta forma de mobilidade tornou-se "rotina".
O estudante nunca usa capacete, mas não tem receio de circular sem essa proteção, apesar de recordar que uma vez quase chocou com outro utilizador que "vinha distraído".
Controlar o álcool
Gonçalo já se tem apercebido de algum controlo por parte das operadoras que mais utiliza, quer no estacionamento, quer na limitação da velocidade máxima a que pode circular. "A Lime é um bocado mais restritiva, a aplicação indica mesmo zonas específicas onde se pode estacionar. Já a Bolt limita a velocidade em certas zonas de Lisboa, o que já tinha visto acontecer em Espanha. Só se pode circular a 20 km à hora", atenta.
Em zonas como Entrecampos e a rotunda da Avenida Estados Unidos da América, em Alvalade, Gonçalo diz não conseguir "andar mais rápido do que isso".
"Nunca tive nenhum acidente nem nunca passei por esses problemas, mas algo que considero problemático é as pessoas virem da noite alcoolizadas e usarem as trotinetas", adverte Gonçalo, recordando que um primo já teve um acidente à custa de um outro utilizador que seguia alcoolizado.
"Não há grande coisa que a Autarquia possa fazer, a não ser chegar a alguma proposta sobre isto em conjunto com as empresas", sugere.
Sem ser evitar andar nos passeios, o jovem não vê outros obstáculos ao uso deste modo de transporte suave. "Acho que todas as zonas da cidade acabam por ter espaço para as trotinetas circularem", defende, não sentindo qualquer tipo de insegurança.
Admite, contudo, que quando as trotinetas começaram a aparecer na capital, estranhou. "Apareceram milhentas trotinetas e de empresas diferentes. Do nada, isto parece um parque infantil gigante".
Operadoras
Lime
Foi a primeira a entrar em Portugal, em 2018, e opera apenas em Lisboa, com 3500 trotinetas elétricas e 300 bicicletas elétricas. Os utilizadores podem terminar a viagem assim que cheguem ao destino, sendo apenas recomendado que estacionem fora do caminho dos peões. Ganham 30 cêntimos para a próxima deslocação quando estacionam nos locais indicados pela Autarquia.
Bird
Tem milhares de trotinetas e bicicletas elétricas distribuídas por mais de uma dezena de municípios e em 2022 duplicou a frota. Afirma que nunca foi sancionada por incumprimento de regulamentos, nem por infringir as regras de estacionamento. Garante que exclui regularmente todos os utilizadores que não as cumpram.
Bolt
Opera em 15 cidades e admite que já teve casos de reboque de trotinetas por estacionamento indevido e sanções que a obrigaram a pagar coimas. Defende que "existe uma falta de clareza no que toca aos regulamentos para estacionamentos corretos e isso deve-se também, em parte, a uma falta de infraestruturas dedicadas". No futuro admite penalizar clientes que não cumpram as regras.