Centro Europeu diz que variantes em causa já circulam pela Europa. Para já, Portugal segue as indicações do regulador.
Corpo do artigo
A União Europeia (UE) não vai, para já, avançar com a testagem, nos aeroportos, a passageiros da China, a braços com um surto de covid depois de ter posto fim à política de zero casos. Mantendo-se, no entanto, vigilante e monitorizando de perto a situação epidemiológica. Numa altura em que vários países, nomeadamente a Itália, retomaram o procedimento, Portugal recusa endurecer as regras para os viajantes. Para o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, o importante é sequenciar as variantes em circulação para perceber a evolução do vírus e detetar novas mutações.
O Comité de Segurança Sanitária da Comissão Europeia reuniu-se, ontem, para "discutir a situação do covid na China com os estados-membros", conforme informou no Twitter, defendendo que "a coordenação das respostas nacionais às ameaças transfronteiriças graves para a saúde é crucial; (...) continuaremos as nossas discussões". Excluindo, para já, a testagem a viajantes provenientes daquele país, vincando, no entanto, citado pela Lusa: "Permanecemos vigilantes e estaremos prontos para usar o travão de emergência se necessário".
Também o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) considerou "injustificadas" tais medidas, explicando que "as variantes que circulam na China já estão a circular na UE", lembrando os "níveis relativamente altos de imunização e vacinação" dos europeus. Segundo o ECDC, é esperado um aumento da incidência na China, país com 1,4 mil milhões de habitantes, devido "à baixa imunidade da população" e ao levantamento das restrições. No início do mês, refere aquele organismo, a China registava 28,61 casos por milhão. O país, recorde-se, pôs fim à política de covid zero e, no próximo dia 8, acaba com a quarentena obrigatória para entrada no país.
Estados Unidos, Japão, Malásia, Índia e Itália anunciaram que vão avançar com medidas de controlo, como a testagem. Em Itália, segundo a Imprensa, num voo oriundo da China, 52% dos passageiros testaram positivo à covid-19. A sequenciação feita pelas autoridades italianas não detetou novas cepas de covid.
Novas mutações na calha
Mas, para o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, será inevitável: "Com tanta gente infetada [na China], vão surgir novas mutações e situações de pessoas que vão ser coinfetadas. O que pode ser perigoso, porque, quando duas versões diferentes se combinam, podem dar origem a uma linhagem nunca vista. Mas não sabemos". Foi o caso da XBB, em Singapura. Por isso, "o que interessa não é o que está lá de variantes, mas a evolução que o vírus vai ter na China, a partir de agora". E os números impressionam.
As estimativas apontam para "800 milhões de infeções na China num horizonte de poucos meses". E se na pior fase da crise sanitária em Portugal o Rt chegou a 2, "estima-se que na China esteja acima de 10, o que significa duplicar casos em menos do que um dia. Desde o verão que os chineses não põem, de forma regular, informação sobre sequenciação dos vírus a circular cá fora", dificultando a monitorização, diz Carmo Gomes.
Concordando com a decisão de Bruxelas, Carmo Gomes explica que as medidas de controlo, como a testagem, visam "atrasar a entrada de novas variantes para tomar medidas (não se para o vento com os dedos), sequenciar o que entra e ver as características". Agora, "sabendo-se que surgiu uma nova versão do vírus mais preocupante, com maior patogenicidade, aí talvez se justifique que a Europa, como um todo, avance com um controlo desse tipo". Avisando, no entanto, que tal "é caro, leva tempo e requer preparação".
À LUPA
Tome nota: BF.7
A BF.7 é uma sublinhagem da BA.5 da variante ómicron, "altamente transmissível", e explicará o surto na China. "Está em todo o lado", Portugal incluído, "e já tem duas ou três mutações relevantes na China", diz Carmo Gomes. Cá, a BQ.1 é dominante.
Recomendações
O Governo espanhol aconselha a quem se desloque à China a ter a vacinação em dia. À Lusa, o Ministério da Saúde português disse estar a acompanhar a situação, sem alterar medidas. Em Itália, a primeira-ministra Giorgia Meloni pediu uma resposta concertada da União Europeia quanto aos testes obrigatórios.