Aos 17 anos, Augusto Santos Silva era várias coisas: caloiro de História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, ativista clandestino de uma organização trotskista chamada União Operária Revolucionária (UOR) e, claro, o jovem de sorriso aberto que nos mostra a fotografia. Um sorriso que o acompanhou no dia 25 de abril de 1974, começado na normalidade das aulas e fechado em vivas ao Movimento das Forças Armadas.
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Aos 17 anos, Augusto Santos Silva era várias coisas: caloiro de História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, ativista clandestino de uma organização trotskista chamada União Operária Revolucionária (UOR) e, claro, o jovem de sorriso aberto que nos mostra a fotografia. Um sorriso que o acompanhou no dia 25 de abril de 1974, começado na normalidade das aulas e fechado em vivas ao Movimento das Forças Armadas.
"Logo de manhã, percebeu-se que a revolta democrática estava em curso", conta o agora catedrático da Faculdade de Economia do Porto. Aulas não houve, e ele e os colegas desceram ao local onde sempre os portuenses se juntam. À Praça, que é a da Liberdade, e à Avenida, que é a dos Aliados (ao cimo, a praça que veio a ser do General Humberto Delgado era apenas "do Município"). E foi aí que houve alguma tensão: "A Polícia demorou algum tempo a perceber que a mudança estava mesmo a acontecer, e houve, ainda, um esboço de repressão: julgavam que a coisa se resolvia à cassetetada, como de costume".
"Ao fim da tarde, estávamos na Praça da República, a apoiar os militares do MFA", lembra Augusto Santos Silva, reproduzindo uma jornada sem grandes sobressaltos. A verdadeira agitação veio depois. "A partir daí, não parei", diz. Tinha atividade política desde os 15 anos e esses dias foram absorventes, o que explica com uma situação pessoal: "No dia 28 de abril, nasceu um sobrinho meu e não me lembro de o ir visitar...".
Dias de "festa", o tempo do "tudo é possível". Mas, também, a reestruturação da consciência política. A UOR fundiu-se na LCI, mas Augusto Santos Silva saiu. Ao perceber o papel de Trotsky no massacre de marinheiros revoltados em Kronstadt, em 1921, pôs o trotskismo para trás das costas. Só em 1990 aderiu ao PS, que o fez ministro várias vezes, mas já a revolução era ida.