Um em cada seis portugueses com mais de 50 anos vive com insuficiência cardíaca
Mais de 700 mil pessoas em Portugal, com idade superior a 50 anos, vivem com insuficiência cardíaca e cerca de 90% não sabe, revelou um estudo da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e da AstraZeneca, em parceria com a NOVA Medical School.
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O último estudo feito em Portugal sobre a prevalência da insuficiência cardíaca, realizado em 1998, estimava que mais de 400 mil pessoas sofriam da doença. Vinte cinco anos depois, um novo estudo, o PORTHOS (Portuguese Heart Failure Observational Study), promovido pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia e da AstraZeneca, em parceria com a NOVA Medical School, revelou que mais de 700 mil portugueses, com mais de 50 anos, vive com insuficiência cardíaca, sendo que 90% dos doentes não sabe que tem a síndrome. Isto significa que um em cada seis portugueses acima dos 50 anos padece da doença.
“A síndrome de insuficiência cardíaca é causada por um coração que se esforça, mas que não consegue entregar aos tecidos as necessidades de sangue. E, habitualmente, isto acontece com pessoas que têm hipertensão arterial, diabetes, doença das artérias do coração, que está ligada ao tabagismo e ao colesterol elevado. Todos estes tipos de risco, juntamente com o envelhecimento, vão fazer com que o coração tenha dificuldade em bombear o sangue”, explca ao JN o cardiolisgista Rui Baptista, um dos investigadores do estudo.
Cansaço, pés inchados, falta de ar e tosse são alguns dos sintomas da doença, que é a principal causa de internamento hospitalar acima dos 65 anos. No entanto, por serem comuns a outras patologias tornam o diagnóstico difícil. Apesar dos avanços da medicina e de atualmente ser mais fácil detetar a doença, o médico cardiologista garante que a subida dos números deve-se ao facto de Portugal ter uma população mais envelhecida, com maior prevalência de hipertensão, obesidade e diabetes.
Apostar na prevenção
“É importante tratar os fatores de risco e atuar até antes que eles apareçam. Temos que evitar a obesidade infantil, o sedentarismo e o tabagismo e, temos que ter uma alimentação saudável. E nas pessoas que já têm os fatores de risco, temos que pugnar para que elas tenham um ótimo controlo desses fatores”, afirma Rui Baptista.
Acrescenta, ainda, que “é muito importante que a comunidade médica esteja alerta para os sintomas e que os valorize quando aparecem nos doentes, mas também é importante que os doentes reconheçam os sintomas quando surgem”.
Para o investigador, estes dados são essenciais para que se possam “implementar políticas que levem a um diagnóstico mais precoce e à criação de estruturas que façam o seguimento adequado dos doentes”. E, consequentemente, que libertem camas dos hospitais, que estão a ser ocupadas indevidamente, e os serviços de urgência.
Modelo inovador
O estudo, que será apresentado esta terça-feira em Lisboa, envolveu uma amostra de 6189 pessoas com mais de 50 anos registadas no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Através de um modelo inovador de investigação colaborativa, agregando uma equipa extensa de investigadores, de médicos e de outros profissionais de saúde, o estudo, desenvolvido entre dezembro de 2021 e setembro 2023, percorreu 22 municípios do país.
Milhares de utentes do SNS foram convidados, por telefone, a participarem no estudo. Após aceitarem, os utentes tiveram que se deslocar a uma unidade móvel, onde foram submetidos a vários testes e exames como a colheita de sangue, um eletrocardiograma e um ecocardiograma.