"Quem será o chato a esta hora?" - foi a pergunta que fez para si, quando o telefone o acordou, já passava das três horas. Era a madrugada do 25 de Abril de 1974.
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Ainda estremunhado, ouve, do lado de lá, a voz do jornalista Costa Carvalho, na altura chefe de redação de "O Comércio do Porto", pedir-lhe: "Venha quanto antes para o jornal, porque há um golpe militar em marcha".
Luís Humberto Marcos, então com 20 anos, depressa se levanta e liga o rádio. Mesmo a tempo de escutar a "Grândola" e o comunicado do Movimento das Forças Armadas. Ainda noite, sai de casa e vai para o jornal, onde permanece até de manhã, quando o mandam ao quartel-general, que encontra de "portões cerrados".
O jovem jornalista bate no ferro, insiste, e a portinhola do grande portão abre-se. Do lado de lá, um militar responde que se trata de "um golpe militar, apenas isso".
Luís Humberto, atualmente diretor do Museu Nacional da Imprensa (MNI), acaba por se aperceber que quem está do lado de lá é o major Corvacho, afinal de contas "o estratega do MFA no Porto", que posteriormente se tornaria comandante da Região Militar Norte.
O dia, no entanto, era para estar na rua. Por isso, coube-lhe também ver "como estavam as coisas" para as bandas da Ponte da Arrábida e do aeroporto de Pedras Rubras, "onde só se viam carros blindados".
À tarde, incumbiram-no de fazer a cobertura jornalística da ocupação das instalações da Legião Portuguesa, na Rua de Oliveira Monteiro, pelos elementos do MFA.
Era o princípio do fim da ditadura, que só foi confirmado, quase ao final da tarde, "quando se começa a ver, nas ruas e nas praças, o povo a abraçar com carinho os militares e a aparecerem cravos por todo o lado". As horas e dias seguintes, viveu-os Luís Humberto "sem cansaço entre a rua e a redação".
