A preocupação com a saúde e uma longevidade com mais qualidade de vida tem levado os portugueses a reduzir o consumo de carne vermelha.
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Atualmente, 800 mil portugueses estão a seguir uma dieta flexitariana, ou seja, seguem uma alimentação à base de vegetais, mas, ocasionalmente, comem carne e peixe. Outros 200 mil são vegetarianos e vegans e já baniram a proteína animal.
Os dados constam de um estudo da Lantern apresentado na quinta-feira em Lisboa. A análise do movimento vegetariano em Portugal, "The Green Revolution" 2021, mostra que "o fenómeno veggie [soma dos vegans, vegetarianos e flexitarianos] não foi alterado pela pandemia e continuou com um crescimento imparável", atingindo mais 250 mil pessoas nos últimos dois anos e elevando para um milhão o número de portugueses que adota este tipo de alimentação.
De acordo com um inquérito realizado a 1012 adultos portugueses, praticamente todas as dietas veggies continuam a crescer: em 2021 representam 11,9% da população (1,018 milhões de pessoas), contra 9% em 2019.
O crescimento é maior no grupo dos flexitarianos, que aumentou 27% em dois anos e se cifra agora em 800 mil pessoas. Neste período, os vegetarianos cresceram 137%, passando de 0,9% da população para 2,1% (180 mil pessoas). Os vegans diminuíram, são atualmente 0,5% da população quando em 2019 representavam 0,7%.
Viver com mais qualidade
Para os flexitarianos, explica David Lacasa, da Lantern, "a maior razão pela qual mudam de dieta tem a ver com a saúde (70%), com o sentir-se bem. Sabem que vão viver mais anos e querem vivê-los com qualidade", pelo que comem mais vegetais e menos carne e peixe. Não há uma medição rigorosa sobre a frequência com que este grupo continua a consumir proteína animal, mas sabe-se que a "maior redução tem-se verificado na carne vermelha". "No geral, comem carne vermelha uma vez a cada 11 dias e peixe e carne branca com mais frequência", diz Lacasa. Nas motivações dos flexitarianos para a mudança seguem-se a preocupação com o bem-estar animal e com o meio ambiente.
Para os vegans e vegetarianos, contudo, as "questões ideológicas" pesam mais e bem-estar animal e alterações climáticas são mesmo a "principal motivação", acrescenta o especialista.
A escolha por este tipo de dietas continua a ser predominantemente feminina. Segundo o estudo, uma em cada sete mulheres em Portugal é veggie (13,7%). Em 2019 eram uma em cada oito. Nos homens, "apenas" um em cada 10 é veggie (9,9%).
Os vegetarianos e vegans estão situados nas faixas etárias mais jovens. Os que têm mais idade não fazem uma mudança tão drástica na alimentação e estão a tornar-se flexitarianos.
À mudança, acrescenta ainda Lacasa, não são alheias "forças externas, que puxam por uma dieta mais flexitariana". "Há uma estratégia forte da União Europeia, para uma transição para uma proteína de origem vegetal. Também há lobbies e partidos políticos com estas preocupações, para além de fundos de investimento que puxam por estas categorias".
Mercado cresce
O mercado com produtos análogos, como hambúrgueres, salsichas e outros que substituem proteína animal por vegetal, tem vindo a crescer e ainda tem margem para seguir esta trajetória. O maior entrave ao consumo, adianta Lacasa, é o "preço, pois são mais caros". Segue-se o facto de serem, geralmente, "muito processados" e ainda haver pouca variedade. As três categorias que têm mais potencial para crescer são os substitutos vegetais do peixe, do queijo e dos ovos.
Lacasa diz que é preciso mudar mentalidades e "deixar de comparar e tentar substituir" os produtos. "Ainda há um campo grande a desenvolver com pratos vegetarianos saborosos, que não pretendem substituir um prato de carne".
Apesar da tendência de consumo ser clara, a Lantern ressalva que ainda não está a ser totalmente "sustentada pelos dados de consumo". Os números do INE, refere, revelam que o consumo de carne vermelha "caiu 5%" entre 2019 e 2020. Faltam dados sobre vendas de vegetais.