Metade dos lingotes da reserva do Estado português estão depositados na “Casa-Forte” do Carregado, onde também se imprimem milhões de notas de euro. A outra metade está em Londres.
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Casa-Forte de Reserva. É esse o nome oficial do local onde está armazenada cerca de metade do ouro do Estado. Um edifício de alta segurança no Carregado, propriedade do Banco de Portugal, poucos quilómetros a norte de Lisboa. É também conhecido como “fábrica do dinheiro”, uma vez que também é aqui que se imprimem as notas de euro.
O complexo tem cerca de 67 mil metros quadrados e é vigiado por um contingente de homens da GNR armados até aos dentes, como puderam testemunhar os jornalistas, numa visita guiada promovida pelo Banco de Portugal, em 2022. Uma oportunidade também para entrar e fotografar a câmara especial dentro da casa-forte onde estão cerca de 200 toneladas divididas em centenas de lingotes (a outra metade está depositada em Londres).
De 866 para 383 toneladas
O Carregado guarda o ouro português, mas é também um dos locais da Europa onde se imprimem as notas de euro. No ano passado, de acordo com o BdP, foram ali impressas notas com um valor facial total de 266 milhões de euros. É também nestas instalações que se recebem e regeneram (ou destroem) as notas usadas.
A reserva de ouro portuguesa foi quase integralmente construída durante o período do Estado Novo. A 25 de abril de 1974, havia 866 toneladas. Hoje são apenas 383 toneladas. Mas o ouro já não tem a importância de outrora: nem para ajudar a definir o valor da moeda (deixou de ter esse atributo, a nível internacional, em 1971), nem para intervir nos mercados com a intenção de manter a estabilidade da moeda (o país trocou o escudo pelo euro e já não tem uma política monetária própria).
Ouro do Brasil e dos nazis
Não se sabe exatamente quando e a quem foi comprado todo esse ouro. Mas há dados importantes que podem ajudar a esclarecer pelo menos a origem da capacidade de entesouramento. Desde logo, o ouro do Brasil, que se tornou no século XVIII o principal produto de exportação entre a então colónia e a metrópole. Não é provável que algum desse ouro tenha resistido até aos tempos do Estado Novo e que, portanto, ainda esteja nos cofres do Carregado, mas há estimativas que dizem quedo Brasil para o Estado português tenham seguido (através do quinto cobrado pelo reino) cerca de mil toneladas de ouro, ao longo do século XVIII (o Brasil tornou-se independente em 1822).
Há, por outro lado, provas abundantes de que uma grande parte do ouro comprado por António de Oliveira Salazar, durante a ditadura do Estado Novo, teve origem na Alemanha nazi. E que esta, por sua vez, o saqueara nos Países Baixos e na Bélgica, logo no início da II Guerra Mundial (1939-1945). Chegou a Portugal com a intermediação da Suíça e nunca foi devolvido aos seus legítimos donos. Os alemães pagaram em ouro a importação de bens como o vinho, azeite, conservas e o volfrâmio, componente essencial para a sua indústria de armamento.