Portugal tem cada vez menos aves e o risco de extinção de espécies cresceu significativamente nos últimos 20 anos, alerta a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. Há medidas que podem suster o risco de extinção.
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"Uma em cada três populações de aves portuguesas está ameaçada de extinção". O alerta é lançado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), assegurando que cada vez mais populações de aves portuguesas ou migradoras entram para a Lista Vermelha de risco de extinção, devido a monoculturas agrícolas, ao uso de agroquímicos, à sobrepesca e às alterações climáticas.
A Lista Vermelha das Aves de Portugal, agora publicada, avalia periodicamente o risco de extinção das aves em território nacional, incluindo aves que usufruem do território do país mesmo que apenas sazonalmente. Com as últimas avaliações do risco de extinção das aves portuguesas, conclui-se que o número de populações de aves ameaçadas de extinção subiu de 88 para 95 populações.
Um exemplo é a população de aves que costuma habitar os campos alentejanos, que sofreu uma redução significativa nos últimos 20 anos, mesmo no interior de áreas protegidas. As causas para essa redução são, essencialmente, "as monoculturas agrícolas, a simplificação da paisagem, o aumento do regadio e do uso de agroquímicos", disse o diretor-executivo da SPEA, Domingos Leitão.
Proteger estuários
Além das aves habitantes do Alentejo, as aves migradoras, que passam por Portugal no inverno, têm sido vistas cada vez menos devido às alterações climáticas e às mudanças nas rotas de migração causadas pelo desenvolvimento urbano e turístico, o que dificulta o processo de nidificação. Já as aves marinhas, também migradoras, foram prejudicadas pela sobrepesca e pela sua captura acidental.
O diretor-executivo da SPEA apela: "Se queremos continuar a usufruir dos milhares de aves que nos visitam atualmente provenientes de lugares longínquos, como a Islândia ou a Sibéria, temos de proteger os nossos estuários e outras zonas húmidas costeiras importantes".
A ação de conservação dessas populações é necessária pois já se comprovaram melhorias em alguns casos. "Temos resultados que demonstram que as ações de conservação funcionam e que as espécies respondem bem às melhorias e ao restauro do habitat, à redução das ameaças de origem humana", explicou Domingos Leitão.
As ações apresentaram resultados no aumento da abundância de alimento em arrozais e zonas alagadas e de lugares de reprodução de garças e patos: Levou também à diminuição das perseguições diretas, do uso ilegal de venenos que atingem as aves e à redução da mortalidade em linhas elétricas, o que já permitiu a conservação a longo prazo das aves de rapina, por exemplo.
A análise da Lista Vermelha das Aves de Portugalfoi realizada em 2022, para atualizar o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, que data de 2005. O III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal, que também faz parte dos trabalhos com o mesmo objetivo, avaliou as áreas de distribuição das populações e espécies de aves que se reproduzem no país. Estas análises do III Atlas decorreram entre 2015 e 2021 e contaram com a ajuda de mais de 400 profissionais da área, como ornitólogos. Ambos os projetos receberam ajuda financeira do Programa Operacional de Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR) e do Fundo Ambiental.