A Associação Portugal Insect promoveu degustação para mudar mentalidades. As empresas esperam que no próximo ano seja permitido entrar no mercado.
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Bolachas de grilo, bolo de farinha de tenébrio, barras proteicas aditivadas com insetos e pratos confecionados por chefes que recorrem a insetos como o ingrediente principal são algumas das novidades que foram ontem degustadas na Universidade Nova de Carcavelos e que, em breve, poderão chegar à mesa dos portugueses. Pelo menos essa é a expectativa da Portugal Insect - Associação Portuguesa de Produtores e Transformadores de Insetos, que promoveu a prova durante um evento que assinalou o Dia Mundial do Inseto Comestível, para ajudar a "mudar mentalidades".
Em Portugal e na maioria dos países da União Europeia [ler ao lado], os insetos ainda não podem ser usados para alimentação humana, o que tem travado a entrada no mercado de empresas que decidiram começar a desenvolver este tipo de produtos. "A legislação europeia que refere que um inseto deve ser considerado um novo alimento já existe, mas, para isso, deve ter todos os processos de segurança alimentar. Ainda não há um único destes dossiês aprovado", lamenta Rui Nunes, presidente da Portugal Insect, salientando que existem 2000 espécies comestíveis.
José Gonçalves, vice-presidente da Portugal Insect e fundador da empresa Nutrix, acredita que, "em 2020", a questão será resolvida e as bolachas de grilo que desenvolveu (e outros produtos novos que está a ultimar) poderão entrar no mercado. "Há uns cinco anos, a ideia de comer insetos causava estranheza ou repulsa e poucos acreditavam que o consumo por humanos, no mundo ocidental, viesse a ser realidade, mas hoje o tema está na agenda", sublinha.
Evitar repulsa
A investigadora Patrícia Borges, do Instituto Politécnico de Leiria, tem vindo a criar bolachas, barras proteicas e outros produtos à base de insetos. "Estes animais causam alguma repulsa no mundo ocidental e percebi que a farinha podia ser uma alternativa, pois enriquece o alimento, mas a pessoa não vê o inseto", explica, indicando que os novos produtos, com "elevado valor proteico, minerais e ácidos gordos essenciais", poderão ser direcionados para nichos, "como atletas ou quem faz dietas específicas".
A ideia, diz, "não é serem um substituto de outras proteínas, mas um complemento". As atenções, neste momento, estão centradas nas potencialidades do grilo, gafanhoto e tenébrio.