Qual foi a reação de Carlos Lopes, quando, na manhã de 25 de Abril de 1974, a sogra lhe entrou em casa a dizer que havia uma revolução e não podiam sair à rua? "A primeira coisa que fiz foi vestir os calções e ir para Monsanto treinar".
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A verdade é que todo o processo que levou ao grande salto do atletismo português, tendo Lopes como protagonista, "faz parte da história do 25 de Abril". Foi em pleno processo revolucionário que a obstinação do treinador Mário Moniz Pereira, autor de um plano de treino ambicioso, levou à alteração legislativa que dispensava os atletas, durante metade do dia, dos seus empregos.
"Foi uma luta tremenda do professor Moniz Pereira, que ficou com a cabeça a prémio. Tinha de apresentar resultados", lembra, notando que "ele sabia bem quem tinha com ele". Aí começou a época de ouro do meio-fundo e fundo portugueses, com vários outros protagonistas, como Fernando Mamede ou Aniceto Simões.
Do 25 de Abril, Lopes recorda "a tropa na rua e os cravos vermelhos". Já vivia em Lisboa desde 1967, quando o Sporting (de que hoje é diretor) o foi buscar a Vildemoinhos (Viseu), tinha casado e trabalhava na Banca: "Foi bom em todos os sentidos".
Depois disso, treino, muito treino. O ano de 1976 foi aquele em que os primeiros grandes resultados surgiram, embalados pelas pernas deste beirão que se tornaria o grande ídolo nacional. Começou por ganhar o primeiro título de campeão mundial de crosse, em Chepstown, no País de Gales, e, em julho, a medalha de prata nos dez mil metros dos Jogos Olímpicos de Montreal, atrás do finlandês Lasse Viren, que, supõe-se, incrementava o rendimento com um esquema fraudulento de autotransfusões: "Foi um segundo lugar que eu senti como primeiro, e mais o sinto agora. Penso que nessa altura era o melhor do Mundo em dez mil. Só perdi essa corrida".
Carlos Lopes
67 anos, ex-atleta