José Pedro Teixeira Fernandes, comentador de assuntos internacionais e professor no Ensino Superior, alertou, a propósito da transição energética e da mudança do modelo de combustíveis fósseis, que “a União Europeia vai ter de ser muito mais rápida, ágil e assertiva”, e “entrar no jogo da política do poder”.
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O impacto da nova presidência de Donald Trump e os desafios que se colocam à União Europeia (UE) dominaram esta terça-feira a terceira tertúlia das “Conversas de Café”, no Porto. A conversa sobre o contexto geopolítico foi lançada, no café Velasquez, por Augusto Santos Silva, coordenador das tertúlias que resultam de uma parceria do JN com a Faculdade de Economia da Universidade do Porto, com o patrocínio da Torre dos Clérigos.
José Pedro Teixeira Fernandes falou de transição energética. E sublinhou que “uma das questões centrais” para essa transição “é a mudança do modelo de combustíveis fósseis, num tipo de economia que vai depender muito mais de minerais”. A propósito, sublinhou que “Trump também já descobriu isso e agora quer até os minerais da Ucrânia”.
Entrar na competição
“Bom, mas os minerais existem em várias partes do mundo”, ressalvou, referindo os exemplos de África e da América Latina. A questão que se coloca é que “os europeus também vão precisar de entrar nessa competição”, que nota envolver também os modelos de sociedade, económica e comercial.
Neste domínio, José Pedro Teixeira Fernandes destacou que, nas suas negociações, a Comissão Europeia impõe um conjunto de regras, “nomeadamente de respeito pelos direitos humanos e de questões ambientais”. Mas “com a China não há este problema. Se é para explorar uma mina, numa semana está feito o acordo”. Por isso, alerta para “a grande dificuldade que a UE tem para disputar este terreno”, sendo que “vai ter que entrar no jogo da política de poder”.
“Qual o drama da UE? Digo isto com tristeza. Habituámo-nos a uma UE que, apesar de tudo, conseguia ser uma força para o bem, mudando o mundo um pouco à sua imagem. O problema é que, com a competição de países que não seguem o modelo ocidental e sobretudo a democracia liberal, e com o afastamento dos EUA dessa lógica, fica desamparada”, alertou o comentador.
“É verdade que há uma oportunidade, ou seja, no melhor cenário, a UE pode reconfigurar-se e conseguir ocupar um pouco esse terreno. Mas vai ter que ser, no mínimo, muito mais rápida, muito mais ágil, muito mais assertiva no bom sentido. E, por vezes, também fazer política de poder”, insistiu, preocupado com uma UE que “está numa encruzilhada” e “terá de fazer ajustamentos”.