Contrastaria de Gondomar é a maior do país e nos 140 anos da instituição oferece menos tempos de espera.
Corpo do artigo
Tida como o primeiro mecanismo de defesa do consumidor (remonta ao século XIII), a contrastaria portuguesa está a completar 140 anos. O maior polo situa-se em Gondomar onde, em conjunto com o do Porto, é feito o controlo (verificação do toque legal) e certificação de cerca de 87% das peças em metais preciosos que entram no mercado. As restantes saem da contrastaria de Lisboa.
Mas, para que serve a contrastaria? De uma forma simples, é a entidade, integrada na Imprensa Nacional-Casa da Moeda, que garante a certificação das peças em metais preciosos, como ouro, prata, platina e paládio, assegurando a proteção do consumidor, prevenindo a falsificação, fuga ao Fisco, branqueamento de capitais e promovendo a leal concorrência entre os operadores económicos.
Instalada no parque tecnológico Goldpark há cerca de dois anos, a contrastaria de Gondomar, em conjunto com a do Porto, emprega cerca de 70 do total dos 85 funcionários nacionais. Sob rígidas normas de segurança, aquele centro de certificação, o maior do país, divide-se em três áreas principais: a receção, o laboratório e a marcação. No primeiro, tal como o nome indica, é onde os ourives deixam as peças para certificar.
Efeitos da guerra
Antes do início da guerra na Ucrânia entravam cerca de 16 mil peças/dia, no contexto atual são 12 mil. "Estávamos a ultrapassar os efeitos da covid-19 quando se deu o início do conflito. A flutuação do preço do ouro levou a uma retração. No Norte, e em específico em Gondomar, há essencialmente pequenos empresários, que preferem esperar pela normalização do mercado", explicou Paula Pedro, responsável pelas três contrastarias portuguesas.
Desde esta fase até à última, o tempo médio de entrega passou de alguns dias para uma média de 5,2 horas. Em 2021, deram ali entrada quase 12 toneladas de metal precioso (10,5 de ouro e 1,3 de prata) e um total de 4,47 milhões de peças, sendo Gondomar responsável por 3,8 milhões.
Nas contrastarias de Porto e Gondomar, que trabalham em complementaridade, embora a segunda seja maior em instalações e produção, passam cerca de 200 a 250 clientes por dia. "Em 2021, incluindo Lisboa, ultrapassámos os 55 mil atendimentos, sendo que no segundo semestre deste ano o setor recuperou e registou um volume de obra entrado superior à fase inicial da pandemia e superior em 2% no Norte ao registado em 2019", prosseguiu Paula Pedro.
Depois de entregues na receção, as peças (na maioria, anéis, brincos e voltas) seguem para o laboratório, onde vai ser feito o controlo de qualidade. Ali, há três formas de o realizar e um deles é a pedra de toque, um fragmento negro (lidite) onde se esfrega a peça e, com um ácido, se verifica o valor do ouro. "Este é um ensaio milenar, inicialmente usado para legalizar o ouro", conta Paulo Mesquita, responsável pelo laboratório de Gondomar. A qualidade da prata é concedida por atributos: "Olhamos à cor, quanto mais branco, maior é o toque da prata".
Raio-X
Outra forma, cada vez mais usada, é o raio-X, que indica "o toque com uma exatidão altíssima". Quando ainda assim sobram dúvidas, "é realizado o ensaio químico na contrastaria do Porto", completou Paulo Mesquita.
A peça está, finalmente, pronta para seguir para o último estágio, a marcação. Há silêncio na sala com as bancadas dos técnicos, cortado a cada segundo por pequenas pancadas. Mecanicamente, cada um certifica a peça com o marcador (contendo o símbolo da pureza do ouro), e um martelo: trata-se do contraste. Um gesto que se tornou mecânico depois de se ter treinado em clips. "Não podemos arriscar marcar peças sem experiência, correndo o risco de estragá-las", assegurou Nuno Teixeira, chefe da secção. A complementar o trabalho manual, existe a máquina de laser. Uma técnica altamente fiável, ainda que mais cara, mas que cada vez mais os ourives preferem.
Épocas como Natal, Dia dos Namorados ou da Mãe são de maior procura de peças em ouro, assim como o verão e a chegada de emigrantes, grandes consumidores do ouro português.
A saber
Inovação
Com o objetivo da inovação, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda investiu mais de dois milhões de euros em investigação, sistemas, equipamentos e adequação de espaços nos últimos três anos.
Reuniões e visitas
Uma das principais preocupações das contrastarias são as reuniões regulares com as associações do setor e visitas às oficinas.
Número de ourives
Ourives de Gondomar são responsáveis por 43% das peças a nível nacional e ultrapassam os 50% nas contrastarias do Porto e Gondomar.