A Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar (USF-AN) garante que o plano de vacinação sazonal do Outono-Inverno 2023-2024 piorou e que a percentagem de utentes vacinados baixou em relação ao último ano. A USF-AN não compreende a alteração do programa e diz que a vacinação nas farmácias não está a funcionar.
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De acordo com a USF-AN, o novo modelo de campanha de vacinação, que inclui as farmácias comunitárias, não está a resultar: "As campanhas de vacinação, incluindo obviamente a acessibilidade, têm sido excelentes até ao ano passado e a situação piorou este ano". Acrescenta, ainda, que a percentagem de pessoas vacinadas, tanto contra a gripe, como a covid-19, desceu face ao último ano.
Este ano, de acordo com dados divulgados pela USF-AN, até 20 de novembro foram vacinadas contra a gripe cerca de 62% das pessoas elegíveis entre os 70 e os 79 anos e, aproximadamente 66% com mais de 80 anos. Já no mesmo período do ano passado, os números indicam que tinham sido vacinadas contra a gripe cerca de 71% das pessoas entre os 70 e os 80 anos e cerca de 75% no que toca a pessoas com mais de 80 anos.
"Sabemos que no arranque da campanha vacinal, a 29 de setembro de 2023, apenas 17% do total de vacinas disponíveis em Portugal foram atribuídas aos centros de saúde. Ainda assim, no espaço de um mês e 20 dias os centros de saúde já tinham, por exemplo, administrado 538 868 vacinas contra a gripe, representando 30% do total de vacinas administradas em Portugal, muito além dos 17% inicialmente previstos", sublinhou a USF-AN.
Tal como acontece com a gripe, a percentagem de pessoas vacinadas contra a covid-19 desceu. Em 2023, foram vacinadas cerca de 51% dos utentes entre os 70 e os 79 anos e, cerca de 55% com mais de 80 anos. Enquanto em 2022, os números sobem para 73% e 72%, respetivamente.
Superou meta da OMS
A USF-AN alerta, ainda, para questões técnicas e oportunidades perdidas: "Quando a vacinação é integrada numa consulta de Enfermagem, ao nível dos centros de saúde, está assegurado um ambiente adequado e seguro, em que a confidencialidade está garantida, bem como a vacinação é complementada com intervenções de vigilância, enquadramento na rede de cuidados e gestão/acompanhamento do compromisso terapêutico".
As unidades de saúde dizem não compreender a "atual aposta e investimento", uma vez que "as equipas de saúde familiar têm demonstrado muito bons resultados" e "o processo estava a ter sucesso". Segundo a associação, nos últimos quatro anos, Portugal superou as metas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde para a cobertura vacinal das pessoas com mais de 65 anos de idade, o que "revela que a acessibilidade nunca foi um problema".
Privatização do SNS
A associação alerta para a transferência de financiamento de verbas do SNS para entidades privadas, alundindo aos 2,5 euros que estão a ser pagos a cada farmácia por cada vacina administrada. "Com a transferência da vacinação este ano para as farmácias, o Diretor-Executivo do SNS retirou aos centros de saúde, um mês e 23 dias de vacinação acima dos 60 anos, isto num ano em que há uma crise grave nos serviços de atendimento à doença aguda", afirmam.
Acrescentam, ainda, que "tem de se concluir que o Diretor-Executivo do SNS não reconhece o esforço das Equipas de Saúde Familiar dos centros de saúde na conquista das taxas de cobertura vacinal da população que têm colocado Portugal nos lugares cimeiros a nível mundial. A prová-lo está a nova proposta de, no próximo ano, permitir às farmácias comunitárias administrar as vacinas contra o tétano e difteria".