Uso de Internet em Portugal está abaixo da média da Europa apesar da boa cobertura
Apenas 84% da população portuguesa recorre à Internet. As PME nacionais também estão atrasadas no uso do digital.
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Portugal está quase na cauda da União Europeia (UE) no que toca ao uso de internet, apesar de se situar acima da média nas competências digitais básicas e na cobertura de rede, inclusive de 5G, como demonstra o Índice de Digitalização da Economia e da Sociedade (IDES), da Comissão Europeia, que compara os 27 estados-membros.
A percentagem de portugueses que usa internet é de 84,2%, o que significa o 25.º lugar e o terceiro pior da UE, cuja média é de 90,3%. Nos Países Baixos, líder europeu, 99% da população utiliza a internet.
Não é por falta de competências básicas que essa utilização não acontece em Portugal, dado que o país já está acima da média nos conhecimentos, com 56% da população instruída, acima da média europeia de 55,7%. Quando se fala em competências avançadas, o cenário é o mesmo: em Portugal são 29,9% da população e a média da UE é de 27,3%.
Mais fixa que móvel
Na comparação com os países da UE, Portugal destaca-se na cobertura de rede, com 94,7% das casas abrangidas pela possibilidade de terem ligação fixa de alta capacidade. É o oitavo melhor resultado da União Europeia, muito distante da média comunitária (cobertura de 78,8% das casas), numa lista liderada por Malta (100%). Das casas abrangidas por internet, 98,1% estão aptas para o 5G, enquanto a média da UE é de 89,3%.
O problema, outra vez, é a utilização. Embora muitas casas estejam abrangidas pela cobertura de rede do território nacional, só 89% têm ligação contratada, o que é o quarto pior resultado da UE, onde a média se situa nos 93,1%.
Quanto ao tipo de internet, os portugueses ainda preferem a banda larga fixa, que representa 89,7% das ligações, contra 65,9% da média da UE. Em sentido inverso, Portugal é dos piores países no uso de internet móvel, dado que só 85,2% dos internautas admitem utilizar esta modalidade de acesso, contra os 89,9% da média da UE.
Situação nas empresas
Outra nota relevante do IDES é o atraso na conectividade das pequenas e médias empresas (PME) de Portugal em comparação com as congéneres da UE. Só 53,6% têm o nível mínimo de digitalização (57,7% na UE), apenas 27% têm redes sociais (30,6% na UE), há 16,5% que fazem negócios online (19% na UE) e 7,2% que usam inteligência artificial (7,4% na UE).
As PME portuguesas só estão melhores do que a média na partilha de informação digital, para a qual basta ter um site. Entre as PME, 46,2% partilham informação digital, o que corresponde ao oitavo melhor resultado da UE, cuja média é de 42%.
“A questão do digital não pode ser só as empresas terem um site, que normalmente é isso que têm”, confirma Jorge Pisco, presidente da Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas. É preciso convencer os empresários das portas que a tecnologia abre, pois eles “estão mais preocupados com outras coisas, como pagar os salários e aos fornecedores”, acrescenta.
O presidente da confederação das PME lembra que “foi dado um salto significativo devido, infelizmente, à covid-19”, mas que é insuficiente: “Para eu falar com o meu vice-presidente que está em Serpa só ao fim do terceiro telefonema é que eu consigo acabar a conversa, esta é que é a realidade. Também temos que criar condições”.
Atrasos nos projetos de comércio digital do PRR
Os programas de apoio dedicados às PME sofreram atrasos significativos, afirma Jorge Pisco: “Do que eu sei, os programas dos bairros digitais e de digitalização do comércio foram um flop desgraçado”.
Em agosto do ano passado, tal como o JN noticiou, as aceleradoras do comércio digital ainda não tinham apoiado qualquer empresa. Este apoio destina 2000 euros por candidatura e prometeu ajudar 25 mil empresas, até ao final deste ano, a adquirirem competências ou software.
O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) de Portugal é de 22,2 mil milhões de euros e destina 4,5 mil milhões de euros à transição tecnológica, sendo o quarto país da UE que menos verbas atribui a esta área, segundo um estudo recente do Tribunal de Contas Europeu.