Efeitos positivos da vacina fazem-se sentir sobretudo entre os 65 e os 80 anos. Em julho, só 5% dos infetados em cuidados intensivos tinham a inoculação completa.
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A vacinação completa contra a covid-19 reduz entre três a nove vezes o risco de internamento, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS). De acordo com a organização, um infetado com mais de 80 anos e já imunizado tem 7,5% de probabilidades de ser hospitalizado devido ao vírus, ao passo que, se não tiver recebido sequer a primeira dose, o número sobre para 20,4%. Mas é na faixa entre os 65 e os 80 anos que o efeito da vacina é mais vincado, fazendo baixar esse risco de 13,3% para 1,4%.
Na semana entre 28 de junho e 4 de julho, 68% das pessoas que receberam alta hospitalar após terem contraído a covid-19 não estavam vacinadas. 30% tinham tomado só uma dose e apenas 2% tinham completado a vacinação. Nos cuidados intensivos, estes números eram, respetivamente, 68%, 27% e 5%.
A evolução da vacinação é, pois, uma boa notícia para os especialistas contactados pelo JN, no dia em que Portugal registou mais 2076 novos casos e 19 mortes por covid-19. André Peralta Santos, da DGS, refere que a vacina foi "a grande arma" na luta contra a pandemia. Os efeitos têm-se feito sentir "principalmente ao nível da doença grave", acrescenta.
Uma quarta vaga melhor
Miguel Prudêncio, do Instituto de Medicina Molecular, diz que estes dados provam a eficácia das vacinas de forma "compreensível para todos". Contudo, alerta que é preciso conhecer os números absolutos de internamentos para evitar um "paradoxo": é que se, no limite, houver 100% de vacinados, as hospitalizações de imunizados corresponderão, também, a 100%.
A vacina está a impedir que os números sejam terríveis
André Peralta Santos e Miguel Prudêncio concordam com o atual desconfinamento por fases. Mas reabrir o país não fará com que os números de internamentos e mortes demorem mais tempo a baixar? "Já baixaram", atalha o perito da DGS, explicando que, num cenário com menos vacinas, a quarta vaga teria tido efeitos "muito piores".
Questionado sobre qual seria o cenário caso o país tivesse enfrentado a variante delta com menores níveis de vacinação, Peralta Santos lembra a Indonésia, onde o impacto foi "muito considerável". Já Miguel Prudêncio recorda o que se passou no início deste ano em Portugal. "A vacina está a impedir que os números sejam terríveis", conclui.
Prudêncio rejeita fazer "previsões taxativas", mas acredita que, graças à vacinação, o país não voltará a confinar. "Só se surgisse uma variante completamente inesperada e para a qual as vacinas não estivessem preparadas", estima. "Mas não acho que isso seja, de todo, provável".
Pormenores
Risco de internamento
O risco de internamento mede-se aferindo a percentagem de hospitalizações entre todos os casos positivos de covid-19 "numa determinada idade e estado vacinal", explicou André Peralta Santos.
Distribuir melhor
Miguel Prudêncio lembra que o destino dos países desenvolvidos está ligado ao dos países pobres. Para evitar ressurgimentos futuros, diz ser necessária uma distribuição mais equitativa das vacinas.
Norte com 100% delta
A variante delta tem uma prevalência acima dos 95% em todas as regiões do país, revelou o Instituto Ricardo Jorge. No Norte, Algarve e Madeira é de 100%.