Dispensadas 369 mil vacinas de um universo na ordem das 850 mil. Mais de dois milhões de utentes imunizados.
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A dispensa de vacinas contra a gripe nas farmácias está aquém do esperado pelo setor. Até ao momento, foram dispensadas, entre contingente privado e do Serviço Nacional de Saúde (SNS), perto de 369 mil. Só o privado, como havia avançado a Associação Nacional de Farmácias (ANF), conta mais de 850 mil vacinas. Admite-se que os elevados stocks possam estar relacionados com a campanha de vacinação em massa do SNS contra a covid e a gripe, que neste ano arrancou um mês mais cedo. Foram já imunizados mais de dois milhões de utentes contra a gripe.
De acordo com os dados facultados pela ANF na terça-feira ao JN, as farmácias dispensaram um total de 368 906 vacinas contra a gripe. Numa campanha que, neste ano, arrancou também quase um mês mais cedo, integrando o contingente privado "mais de 850 mil vacinas", de acordo com a mesma fonte.
Para se ter noção do ritmo de dispensa, no ano passado, em apenas nove dias - a comercialização arrancou a 25 de outubro -, as farmácias tinham dispensado 434 mil vacinas. Num acréscimo de 82% face a período homólogo de 2020, ano em que a oferta (500 mil vacinas no contingente privado) não chegou para a procura. Agora, as farmácias têm excedente.
Do lado do SNS, a Direção-Geral da Saúde (DGS) fez ontem saber terem sido "vacinados mais de milhões de utentes contra a gripe", numa campanha iniciada a 7 de setembro e que se prolonga até dezembro. No ano passado, a 12 de novembro, o então secretário de Estado Lacerda Sales anunciava o "marco assinalável" de imunização de um milhão de pessoas contra a gripe.
Frigoríficos cheios
Ao JN, a vice-presidente da Associação de Farmácias de Portugal refere queixas de associados, que reportam terem "mais de metade das vacinas que compraram no frigorífico". Manuela Pacheco fala num sentimento de "fiasco" e que algumas farmácias estão a pedir se é possível "direito a crédito quando passar a altura do prazo [validade a maio de 2023]". Findo esse prazo, são incineradas. "Se temos dois milhões e devolvemos 500 mil, para o ano não temos", explica.
Aquela responsável admite que entre as explicações para o atual nível de stock possa estar o facto de a campanha contra a covid e a gripe ter "começado mais cedo", aguardando os utentes pela convocatória. Alerta, no entanto, para a "desinformação da população".
A mesma hipótese é avançada pelo pneumologista Filipe Froes: "O facto de termos uma grande campanha de vacinação contra a covid e a gripe fez com que muitas pessoas, por comodidade, sabendo que são duas vacinas, esperem que sejam convocadas". No ano passado, recorda, "estávamos a vacinar reativamente e agora estamos a fazê-lo proativamente".
O especialista, no entanto, salienta que, uma vez que estamos na segunda quinzena de novembro, e demorando a vacina contra a gripe 15 dias a desenvolver proteção total, "não devem esperar pela vacina da covid", pelo que "todas as pessoas, sobretudo com comorbilidades, devem vacinar-se".
Recordando que a "administração de vacinas nas farmácias é complementar ao SNS", a ANF refere, ainda, que "o verão longo afastou as pessoas das preocupações com a gripe". Sublinhando que o importante é que "todas as pessoas que podem beneficiar da vacina se vacinem".