Elevada taxa de imunização e decréscimo da efetividade explicam evolução. Sem dramatizar, peritos apelam à terceira dose nos mais idosos.
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As pessoas com esquema vacinal completo respondem por mais de metade dos novos casos de infeção por SARS-CoV-2 e dos óbitos por covid-19. Uma evolução esperada pelos especialistas, tendo em conta o elevado nível de imunização da população e o decréscimo da efetividade vacinal com o passar do tempo. Com o país a caminhar para os dois mil casos diários, mas longe das linhas vermelhas ao nível de internamentos e mortalidade, os peritos defendem a administração da terceira dose nas camadas mais idosas com urgência e a manutenção das medidas de proteção individual.
De acordo com o último relatório das "linhas vermelhas", em setembro, 58% dos óbitos por covid registaram-se em pessoas com esquema vacinal completo, num total de 126. Seguem-se 36% em indivíduos não imunizados e 6% com vacinação incompleta. Com "aumento ligeiro da letalidade" entre os vacinados, sobretudo nos grupos dos 70-79 anos (0,7%, em julho; e 1,9%, em agosto) e nos mais de 80 anos (5,7%, em julho; e 7,5% em agosto). A mesma tendência regista-se ao nível do risco de internamento.
Contudo, vincam, "o risco de morte, que é medido através da letalidade por estado vacinal, é duas a quatro vezes menor nas pessoas com vacinação completa do que nas pessoas não vacinadas", lê-se no documento. E o risco de internamento "cerca de três a seis vezes inferior". Dos mais de 8,6 milhões de portugueses com esquema vacinal completo, 0,5% contraíram SARS-CoV-2. Dos quais 1,8% viriam a ser hospitalizados e 1,1% a morrer, a maioria (73,9%) com mais de 80 anos.
Uma evolução esperada pelos peritos que têm apoiado o Governo no combate à pandemia. Revelando ao JN o epidemiologista Carmo Gomes que "desde o início de outubro bem mais de 50% dos novos casos são de vacinados, devendo agora ser seguramente a grande maioria". O que se explica com uma taxa de "86% da população vacinada".
É natural quando se tem grande parte da população vacinada e se assiste à perda de eficácia da vacina com o passar do tempo
Com diferenças a assinalar: "Normalmente, com um risco baixo de doença grave. Têm sintomatologia, mas a maioria ultrapassa a infeção e fica com o sistema imunitário reforçado". Contudo, quando se trata de "pessoas fragilizadas há sempre o risco de doença grave e morte", nomeadamente nos maiores de 80 e com comorbilidades. Posição corroborada pela pneumologista Raquel Duarte: "É natural porque a partir do momento em que temos grande parte da população vacinada, as pessoas que vão ficar doentes vão fazer parte dela".
Perda de eficácia da vacina
A que se junta, diz ao JN a perita que assessorou o Executivo, "a perda da eficácia da vacina com o passar do tempo; continua a ter efeito na forma grave da doença, mas começa a haver transmissão". Carmo Gomes, por sua vez, explica que "a partir do quinto/sexto mês há um decaimento da proteção conferida pela vacina". Perda essa "mais acentuada nos idosos, onde a efetividade era menor, com a concentração de anticorpos a decair mais depressa" (ver infografia), precisa o também membro da Comissão Técnica de Vacinação contra a covid-19.
Vamos mesmo ter uma subida, a grande maioria em vacinados, não vale a pena dramatizar. Importa acelerar o reforço para proteger os mais idosos
Com a subida de casos - Carmo Gomes estima que o país chegue aos 2000 diários dentro de um mês -, urge administrar a terceira dose à população mais envelhecida. "Os países que o estão a fazer de uma forma rápida e célere têm a situação mais controlada", frisa Raquel Duarte. Para quem o reforço deve ser "acelerado para reduzir o risco de formas graves e de transmissão na comunidade". Associado "à manutenção das medidas de prevenção não-farmacológicas: máscara e distanciamento".
Tanto mais que "vamos mesmo ter uma subida, a grande maioria em vacinados, não vale a pena dramatizar", diz o epidemiologista. Antes, "acelerar o reforço para proteger os mais idosos".
351 mil com a 3.ª dose
De acordo com a Direção-Geral da Saúde, 351 mil dos 840 mil utentes elegíveis, neste momento, para toma de terceira dose foram já imunizados. Sendo que "mais de 35 mil estão agendados para os próximos dias". No total, serão 1,5 milhões até dezembro.
Autoagendamento
O autoagendamento online para vacinação em simultâneo contra a gripe e contra a covid-19 para maiores de 70 anos está disponível desde segunda-feira à tarde. Também na segunda-feira teve início a modalidade casa aberta para os maiores de 80 anos.