Isolamento em caso de contacto com positivo na escola acaba para todos. Pediatras aplaudem, mas admitem que decisão aumenta dúvidas dos pais.
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Um dos grandes argumentos para a vacinação contra a covid-19 das crianças dos 5 aos 11 anos - acabar com o isolamento de turmas quando há um caso positivo na escola - deixou de ser válido. A partir de segunda-feira, se as crianças contactarem com infetados na escola, não ficam isoladas em casa. Estejam ou não vacinadas. Para quem tem dúvidas sobre a vacinação infantil, cuja segunda fase decorre até domingo, a queda deste pressuposto pode causar ainda mais hesitação.
Os pediatras ouvidos pelo JN aplaudem a decisão da Direção-Geral da Saúde, mas admitem que poderá aumentar as dúvidas dos pais e conduzir a desistências. E há quem receie que a medida só tenha avançado por causa das eleições.
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Há menos de um mês, quando foi aprovada a vacinação do grupo 5-11 anos, a diretora-geral da Saúde garantiu que os vacinados com duas doses não ficariam sujeitos a isolamentos se tivessem um contacto com um positivo na escola. Mas esta semana tudo mudou com a alteração do conceito de contacto de alto risco, que passou a abranger apenas os coabitantes. Ou seja, a partir de segunda-feira só faz isolamento profilático (sete dias) quem viver na mesma casa de um infetado. Os vacinados com a dose de reforço ou recuperados há menos de seis meses não têm de confinar.
Jorge Amil Dias entende que as medidas anunciadas são um "importante contributo para a normalização da vida escolar, o que vinha sendo prometido há meses sem consequências práticas". O presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, nota, contudo, que "todo o cenário da infeção covid-19" nas crianças "já apontava para alguma dúvida na necessidade formal de implementar o programa de vacinação pediátrica" e que essa dúvida "agora está reforçada".
Acabam os "castigos"
O especialista vê "com satisfação" que, nas crianças, "o estado vacinal não seja um elemento diferenciador da decisão de necessidade de isolamento". E está certo de que foi "a natureza menos grave (ou até inaparente) da infeção pediátrica" que influenciou a decisão. O JN questionou a DGS, mas não recebeu resposta.
Cristina Camilo, presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos Pediátricos fica "muito feliz" com a alteração que vai "deixar de castigar crianças e pais com isolamentos" e espera que a medida "não tenha a ver com as eleições". A especialista desconhece o impacto desta alteração nos pais, mas acredita que "os indecisos ficarão satisfeitos por não terem de vacinar".