
Governo quer formar mais médicos
Tony Dias/Arquivo Global Imagens
Duplica o corte nos cursos com nota mais baixa no Porto e em Lisboa. Em todo o país, haverá mais estudantes nas áreas do conhecimento mais cobiçadas. Também Medicina vai crescer.
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Os cursos com alunos de excelência (com nota mínima de entrada de 17 valores) vão ter um aumento de vagas superior ao do ano passado e as tecnologias de informação ou a ciência de dados também podem crescer. As vagas em Medicina sobem 15% mas, no Porto e em Lisboa, duplica o corte dos lugares disponíveis em cursos com notas de entrada mais baixas, pretende o ministro da Ciência e do Ensino Superior, Manuel Heitor.
A proposta de despacho que fixa o número de vagas, a que o JN teve acesso, mantém a lógica de diminuir o número de vagas no Porto e em Lisboa, para incentivar a ida de alunos para instituições do Interior. No global, o número de vagas nas duas maiores cidades cai 10% (contra 5% no último concurso de acesso); nas restantes universidades e politécnicos do litoral, o número global tem de se manter; no Interior, as vagas voltam a subir.
Cursos de excelência
Uma das diferenças face à proposta do ano que agora termina é o benefício dado aos cursos com alunos de excelência: nota mínima de entrada de 17 valores e todas as vagas preenchidas na primeira fase e em primeira escolha (ler tabela).
Em todo o país, estes cursos vão ter mais vagas: mínimo de 15% e máximo de 20% (este ano, o aumento foi entre 5% e 15%). Esta subida é obrigatória, mas o despacho admite um outro aumento, opcional: as vagas podem crescer 5% nas áreas ligadas a competências digitais ou a ciências de dados.
As instituições situadas no Interior do país também poderão receber mais estudantes, desde que em cursos considerados estratégicos para a instituição em causa (no máximo três). Esta é uma oportunidade que as instituições não têm aproveitado, lamenta João Guerreiro, presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior.
Toda a Medicina com 15%
Fora dos limites já referidos ficam os cursos de Medicina. O ministro do Ensino Superior já tinha dito ao JN querer aumentar o número de vagas e agora concretiza a intenção. A proposta enviada às universidades e aos politécnicos permite-lhes aumentar o número de vagas em 15%, em todos os cursos, incluindo o da Beira Interior, cujas notas de entrada são mais baixas.
O aumento das vagas nos cursos de Medicina foi duramente criticado por representantes dos profissionais de saúde.
Ordem dos Médicos pede reunião urgente
Miguel Guimarães vai pedir uma reunião urgente ao ministro da Ciência e do Ensino Superior, Manuel Heitor, para lhe explicar por que razão a Ordem dos Médicos está contra o aumento de 15% de vagas em cursos de Medicina proposto pelo Governo. A apoiá-lo terá o Conselho de Escolas Médicas Portuguesas, que também não foi ouvido pelo governante.
O presidente do Conselho de Escolas Médicas, Fausto J. Pinto, assina uma carta aberta a Heitor onde mostra a sua "estranheza" por ter sabido pela Comunicação Social da intenção do Governo de aumentar em 15% as vagas em Medicina, sobretudo numa altura em que as equipas clínicas estão concentradas na resposta à covid. E lamenta que o Governo não tenha perguntado às escolas se têm "condições de acolhimento deste excedente de alunos".
Perderam a cabeça
Anfiteatros com capacidade para 190 estudantes, mas onde 330 têm aulas ou consultas nos hospitais públicos com dez ou vinte estudantes a assistir ilustram uma das razões pelas quais o bastonário da Ordem dos Médicos recusa o aumento das vagas em Medicina.
"Portugal está entre os países com mais médicos per capita", diz Miguel Guimarães, para contrariar a noção de que são precisos mais profissionais. O problema, desconfia, é que o Serviço Nacional de Saúde não os consegue captar: "Muitos, sobretudo das gerações mais novas, acabam a formação em Portugal e emigram para países com salários muito mais altos, mais férias, mais formação paga, melhores condições".
A solução, acredita o bastonário, tem de passar pela melhoria das condições de contratação.
