"Que há racismo em Portugal, há", alertou Marcelo rebelo de Sousa, esta segunda-feira, ao falar aos jornalistas após uma aula na "nova tele-escola", que passou em direto na RTP Memória, às 13.30 horas.
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"Não sei se a sociedade portuguesa é, como um todo, racista. Agora que há setores racistas e xenófobos em Portugal, há", disse Marcelo Rebelo de Sousa.
"O que mais me preocupa, é a radicalização da sociedade portuguesa. Estamos a viver uma pandemia e, no momento em que temos uma crise económica e social, vamos juntar a isso a radicalização, gratuita, da sociedade portuguesa, que se alimenta reciprocamente, que não é tratar seriamente os problemas ou definir políticas contra as desigualdades", disse Marcelo Rebelo de Sousa.
"O radicalismo puxa radicalismo", alertou o presidente da República. "O povo português ganha alguma coisa com essa radicalização gratuita e não inteligente? Acho que não", argumentou.
"Não penso que vandalizar ou destruir estátuas seja uma forma inteligente de combater", disse Marcelo Rebelo de Sousa. "Traduz-se em quê, na mudança de vida daqueles negros ou asiáticos que não têm as mesmas condições de outros que não pertencem a esta maioria. Ou de todos outros que pertencem à maioria étnica em Portugal e cujas crianças não conseguem chegar ao que têm os das classe média e média alta", sublinhou o presidente da República.
Não há razão nenhuma hoje, mesmo a do combate ao racismo, ou outro tipo de combates, que justifique destruir a História
Marcelo defendeu uma contextualização da História. "Sou chefe de um Estado que tem uma história feita de vitórias e derrotas, de coisa boas à luz da época e más agora, de coisas más na altura e boas agora, por exemplo. Assumimos a História toda, o que foi bom e o que foi mau", disse Marcelo Rebelo de Sousa.
"Julgar a história à luz de hoje é um erro", argumentou Rebelo de Sousa, sublinhando que ligado a essa história está um património. "Personalidades que marcam a nossa História, têm de ser respeitadas e consideradas à luz da época em que viveram", disse Marcelo Rebelo de Sousa.
"Não há razão nenhuma hoje, mesmo a do combate ao racismo, ou outro tipo de combates, que justifique destruir a História e os testemunhos de personalidades da nossa História", argumentou Marcelo Rebelo de Sousa. "Senão, começamos no Dom Afonso Henriques, pela perseguição aos muçulmanos, seguimos pela primeira dinastia e vai tudo, até a torre de Belém, ou recuando até aos tempos do romanos e gregos", acrescentou o presidente da República.
"Destruir a História é um exercício teoricamente muito fácil, mas é um exercício que não vai mudar a vida daqueles que são discriminados, que vivem isolados", sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa. "A maneira de lutar verdadeiramente contra o racismo e xenofobia é criar condições, hoje e para o futuro, que reduzam as desigualdades, não é destruir História, é fazer história diferente", sublinhou.
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A vandalização da estátua do Padre António Vieira demonstrou "não só ignorância como imbecilidade", disse Marcelo Rebelo de Sousa. Admitindo que a ignorância pode ser bem intencionada, decorrer apenas de desconhecimento, considerou que, neste caso, "é imbecil, porque o padre António Vieira é uma das grandes personalidades deste país", disse.
"Lutou pela independência, foi um grande diplomata, um homem progressista para aquela altura, perseguido pelos colonos portugueses no Brasil e pela corte", disse Marcelo Rebelo de Sousa, considerando o padre António Vieira como "um dos maiores e escritores e oradores portugueses."