Quatro pedidos de ajuda ao Governo ficaram sem resposta. Quebra nas vendas da imprensa agravada pela pandemia.
Corpo do artigo
A partir de julho, a VASP vai cobrar uma taxa aos quiosques pela distribuição de jornais e revistas.
A empresa justifica a decisão com o facto de o Governo não dar resposta aos sucessivos pedidos de apoio, para fazer face à quebra nas vendas de publicações em papel e ao prejuízo que tem na distribuição no interior do país. A medida está a causar revolta entre alguns donos de quiosques e papelarias (pontos de venda), que dizem ter começado a boicotar a venda de jornais.
Paulo Proença, presidente do Conselho de Administração da VASP - que é detida, em parte, pelo Global Media Group, ao qual pertence o JN -, assegura que a distribuição da imprensa escrita só é rentável numa parte do país: no Grande Porto, na Grande Lisboa e numa faixa litoral entre Coimbra e Leiria. No resto do território, o negócio tem vindo a deteriorar-se, com a redução da venda de jornais de papel, agravada pela pandemia. As contas estão "fortemente no vermelho", afirmou. Sem capacidade financeira para aguentar o prejuízo mais tempo, Paulo Proença assegura que "há o perigo de haver zonas do país que deixam de ter jornais".
Em 2020, escreveu três vezes ao Governo, alertando para a urgência de um apoio. A 28 de dezembro, reuniu com o secretário de Estado do Comércio, João Torres. "Ficou de nos voltar a contactar em janeiro e nada". Há um mês, seguiu novo email para o Governo (e grupos parlamentares) - de novo, sem resposta. "Que alternativa há? Pedimos aos pontos de venda que comparticipem os custos de distribuição", disse, acrescentando ter recebido protestos de cerca de um décimo dos vendedores.
Quiosques protestam
A comparticipação traduz-se numa taxa de 1 euro ao domingo e 1,5 euros nos outros dias (acresce IVA), igual para todos os pontos de venda. "Eu teria que vender dez jornais por dia só para pagar a taxa", disse João Pequeno, da Papelaria Oliveira, de Vagos. Por norma, garante, vende menos. "Já fiz contas, não compensa".
A Oliveira é uma das muitas tabacarias que começaram a boicotar a venda de jornais. A Temas e Palavras (Lavra e Maia) é outra. "Não tenho culpa que a VASP não tenha tido apoios do Estado", diz dono, João Andrade, que vai consultar um advogado sobre a possibilidade de dar entrada com uma providência cautelar.
Pormenores
Providência cautelar - "Neste momento, está a ser criada uma associação dos agentes e vai entrar uma providência cautelar contra a iniciativa da VASP", adiantou Helena Barros, em representação de cerca de 320 pontos de venda.
Porte pago - Desde 2007, o Estado paga 40% do custo dos jornais enviados pelos CTT. Até então, pagava a totalidade do custo. A descida do valor do apoio tem sido apontada como uma causa do declínio da imprensa local e regional.