Dois veleiros ficaram sem leme após ataques de orcas em Sesimbra e Sines. Ambas as embarcações tiveram de ser rebocadas pelo Instituto de Socorro a Náufragos, sem que os tripulantes tivessem necessidade de assistência hospitalar.
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A primeira interação aconteceu a 9 de agosto e foi filmada por tripulantes que seguiam a bordo do veleiro Santa Bárbara, com bandeira de Leixões. Foram atacados por mais de três orcas a uma milha náutica de Sesimbra, quando se preparavam para dar entrada no Porto do município.
De acordo com Marco Serrano Augusto, comandante da Polícia Marítima de Setúbal, o alerta foi dado pelas 19 horas de sábado. “O skipper, ou comandante, disse que em 20 anos de navegação, nunca tinha interagido com orcas”, referiu o dirigente ao JN, acrescentando que nenhum dos tripulantes sofreu ferimentos.
O vídeo que mostra a interação com os animais, publicado nas redes sociais do grupo Orca Attack Iberia, mostra um grupo de orcas a circundar o veleiro durante vários minutos. O skipper refere que realizou o protocolo adequado à situação: desligou o motor e, tendo em conta que a interação persistiu, engrenou a marcha à ré e pediu socorro.
A embarcação da Estação Salva Vidas de Sesimbra, do Instituto de Socorro a Náufragos, acorreu ao local e, à chegada, as orcas já se tinham afastado do veleiro, que foi rebocado para Sesimbra sem parte do leme.
O vídeo mostra a alegada intenção de deitar gasóleo ao mar, para afastar as orcas. Momentos depois, é visto um dos tripulantes a entornar um líquido pela popa do veleiro, onde as orcas se encontravam. O comandante da Polícia Marítima de Setúbal refere que, quando os meios de socorro chegaram, não foi avistada qualquer mancha de poluição e alerta que entornar gasóleo ao mar é um crime de poluição.
“Será feito um auto notícia sobre a ocorrência para averiguar o que de facto aconteceu, serão ouvidas as pessoas e só depois se pode averiguar se de facto foi cometido algum crime”, disse ao JN.
Dois dias depois, a 11 de agosto, ocorreu uma nova interação com orcas em Sines. Um veleiro de bandeira alemã, com um tripulante de nacionalidade neerlandesa, foi alvo de um ataque por um grupo de orcas. Tal como aconteceu em Sesimbra, ficou sem leme. O comandante da Polícia Marítima de Sines, Luís Duarte, refere ter recebido o alerta pelas 18.30 horas.
“O veleiro foi rebocado para o porto de Sines com danos no leme”, realçou o comandante, acrescentando que o único tripulante do veleiro não ficou ferido.
As razões das interações entre as orcas e os veleiros continua a ser um mistério para a comunidade científica que compõe o grupo Orca Atlântica, composta por biólogos de Portugal, Espanha e França. Sabe-se que são 37 os animais que navegam pela costa portuguesa em seis grupos. Seguem a migração do atum por toda a costa, entre o norte de Espanha e o Estreito de Gilbraltar.
As interações que muitos tripulantes consideram ser ataques aos lemes das embarcações começaram em 2020. Apesar de ainda não existir uma explicação para este comportamento, tem sido cada vez mais frequente e perigoso, aumentando de 17 interações em 2020 para 62 no ano passado, quando houve registo de dois naufrágios, um em Sines e outro na Figueira da Foz.
Parar o motor e engrenar a marcha à ré
O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e a Associação Naval de Lisboa (ANL) criaram um protocolo de segurança para o caso de interação de orcas com barcos.
As duas entidades recomendam que, numa situação destas, a tripulação deve "imobilizar a embarcação e deixar o leme solto" ou "engatar a marcha à ré e navegar assim durante o tempo considerado necessário, sem mudanças bruscas de direção".