Proibição de aceder às campas e restrições de circulação deixam marcas. Associação de produtores prevê que a quebra final possa ser superior. Norte, onde a tradição está mais enraizada, é a região com maiores prejuízos.
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A venda de flores para enfeitar cemitérios para estes dias de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos caiu, pelo menos, "30 por centro", diz a Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais (APPPFN). Um número ainda provisório, revela o presidente Rui Aguiar, pelo que as perdas poderão ser ainda maiores, dada a retração de consumo dos portugueses e também as restrições relacionadas com a pandemia, entre elas a circulação entre concelhos e o encerramento de muitos cemitérios. O prejuízo será mais acentuado no Norte, onde é mais forte a tradição de homenagear os entes queridos nesta altura do ano, com ornamentação melhorada de campas e jazigos. "Milhares e milhares de flores que não se venderem vão para o lixo", prevê Rui Aguiar.
"As reações dos associados com quem já tive a oportunidade de falar falam de quebras nas encomendas de cerca de 30 por cento, mas ainda aguardamos muitas respostas ao pedido de informação que solicitamos para podermos comparar as vendas deste ano com as de 2019", adiantou Rui Aguiar, que acredita num cenário final bem mais negro em matéria de vendas.
Pior para os comerciantes
Rui Aguiar frisa que a sua estimativa diz apenas respeito "a produtores de flores de corte", calculando que as quebras "serão bem maiores" para os comerciantes.
"Teremos de esperar até terça ou quarta-feira pelas respostas dos nossos sócios. Queremos informar quem de direito, com os números da forma mais exata possível, para que quem manda saiba as verdadeiras consequências económicas destas medidas", acrescentou.
O presidente da APPPFN, também ele produtor de flores e plantas, conta o seu caso para demonstrar o impacto das restrições a nível de circulação entre concelhos e o encerramento de cemitérios nestas datas festivas. "Toda a minha família está em Famalicão e eu não vou lá porque estou na Póvoa de Lanhoso. É uma medida que vai influenciar nas quebras de vendas de flores. Talvez seja a medida possível, mas na realidade as pessoas não vão porque seria nestes dias que se deslocariam aos cemitérios. Isso implica consumo de flores que não vai ser feito e é produto que vai acabar no lixo", descreveu.
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Mais de metade de perdas no Grande Porto
O encerramento dos cemitérios na Região do Porto este fim de semana, conjugado com a proibição de circulação entre concelhos, adensou uma crise transversal no negócio das flores, com perdas que podem chegar aos 60 por cento.
Porto, Matosinhos, Maia, Gondomar, entre outros concelhos, encerraram os cemitérios por causa do combate à propagação do novo coronavírus, e a decisão desagradou no negócio das flores. Gaia, por seu lado, vai manter os cemitérios abertos, mas limitando hoje a permanência a 45 minutos a quem quiser homenagear os familiares mortos. Os floricultores ouvidos pela Lusa a propósito do Dia de Finados e de Todos os Santos em plena pandemia estão todos a sentir dificuldades: este ano há quebras entre os 25% e os 60% em comparação com 2019. Luís Ramos, da empresa dSRL, reportou "perdas de faturação de 25%". A percentagem de perdas "cresce para 60%" na conversa com Luísa Martins, da Virgin Flower. E Alexandrino Sousa, da Maia Flor, situa as perdas entre "os 50% e os 60%", depois de "muitos clientes que no Dia dos Fiéis se deslocam às suas aldeias terem cancelado as encomendas".