A dispensa de medicamentos e suplementos contendo vitamina D, em farmácias e parafarmácias, cresceu 21% em cinco anos (2014/2018), de 40,08 milhões para 48,52 milhões de euros, segundo a consultora IQVIA. Em média, os portugueses gastam 133 mil euros por dia em vitamina D. Em embalagens, a subida é de 30%.
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Tudo isto acontece num país de sol abundante, estímulo-chave para que o organismo produza vitamina D. Surgem então as dúvidas: estaremos a aproveitar devidamente os raios solares? Haverá excesso de prescrição ou recomendação? As respostas incluem posições diversas, "algumas irritações" e discussão entre gastrenterologistas e dermatologistas.
Há dois anos, depois de se conhecer que as vendas de medicamentos com vitamina D tinham disparado, a Direção-Geral da Saúde (DGS) prometeu analisar o tema, conjuntamente com o regulador do medicamento (Infarmed) e Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, mas, até à data, não se conhece qualquer estudo.
Contactada pelo JN, a DGS refere que está a ser ultimada uma Norma Clínica sobre Prevenção e Tratamento da Deficiência de Vitamina D, que deverá ser publicada este ano. A orientação em vigor é de 2008 e recomenda suplementação com cálcio e vitamina D a maiores de 65 anos e mulheres em fase pós-menopausa e risco de osteoporose.
O gastrenterologista Fernando Ramalho sublinha que o défice de vitamina D não é´um problema circunscrito a idosos e mulheres e associa o aumento das vendas ao acesso a "mais informação, ainda que a considere insuficiente".
Acusa a DGS de não estar a dar os esclarecimentos necessários, nomeadamente, o benefício de uma hora de sol. Deveria ser dito: "Sim senhor, portugueses, devem usar protetor solar mas reservem uma hora pela manhã para produzir vitamina D, que precisam".
"Uma moda"
O dermatologista Osvaldo Correia, presidente da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo, mostra-se cético em relação aos efeitos preventivos da vitamina D nalgumas doenças. Está convencido de que "esta suplementação é uma moda". E contesta vivamente a recomendação da exposição solar sem protetor.
O gastrenterologista José Almeida Cotter considera a procura de vitamina D um sinal de "maior sensibilidade para detetar a falta", mas acrescenta fatores: o envelhecimento da população, a permanência dos idosos em casa e as longas horas de trabalho em espaços fechados.
Sobre a exposição solar, defende "uma posição intermédia". "Respeito a posição dos dermatologistas: em determinadas horas, o sol pode ser prejudicial. Mas é desejável durante a manhã ou a meio da tarde", defende.
O que é?
É praticamente impossível adquirir a vitamina D necessária através da alimentação. Alguns peixes gordos, como salmão e sardinha, são fontes de vitamina D, mas o sol é responsável, pelo menos, por 80% a 90% da vitamina que o corpo recebe. E o sol só estimula a sua produção cutânea na pele nua. Esta vitamina atua como hormona, imprescindível na regulação do cálcio e fósforo; e a sua insuficiência foi recentemente associada a cancros malignos (cólon e mama, por exemplo) e a doenças cardiovasculares, entre outras.