Donos da Altice e da Quinta da Pacheca garantem ter feito uma oferta 25% superior à do fundo que adquiriu complexo à dona do Novo Banco.
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A venda do complexo Vilamoura World, pertencente ao fundo Lone Star, detentor de 75 % do Novo Banco, está a ser contestada pelos empresários Armando Pereira, dono da Altice (Meo), e Paulo Pereira, proprietário da Quinta da Pacheca. Garantem ter feito uma proposta 25% superior ao valor pelo qual o fundo norte-americano acordou vender o multimilionário projeto turístico algarvio a um grupo de investidores, acompanhados pelo fundo de investimento Arrow Global, onde Maria Luís Albuquerque, antiga ministra das Finanças, é diretora não-executiva. Fonte oficial do Lone Star disse ao JN que não comentava o negócio.
O Vilamoura World é um complexo que engloba a Marina, projetos imobiliários e hoteleiros, terrenos construíveis, um centro equestre, um parque ambiental e ainda o núcleo museológico do Cerro da Vila. Foi comprado por uma das subsidiárias do fundo Lone Star em 2015 e colocado à venda dois anos depois, quando a casa-mãe, detida por investidores norte-americanos, decidiu adquirir o Novo Banco.
Negociações e emails
Em outubro do ano passado, os donos da Altice e da Quinta da Pacheca, que fizeram fortuna em França, interessaram-se pelo negócio. "Fizemos uma auditoria rigorosa e tivemos várias conversas e trocas de emails, até que avançamos com uma proposta para comprar o Vilamoura", afirmou ao JN, Paulo Pereira, que não revela o valor ao abrigo de uma cláusula de confidencialidade assinada entre as partes.
Ainda de acordo com o empresário, as conversações prolongaram-se nos meses seguintes, mas, recentemente, foram informados que a Lone Star tinha decidido iniciar negociações com outros potenciais investidores. Esta semana, foram surpreendidos pelo anúncio da venda ao grupo de investidores nacionais, liderado por João Brion Sanches, em parceria com o fundo Arrow Global.
"Ficámos surpreendidos. Mais ainda quando soubemos que a proposta aceite pela Lone Star era cerca de 25% inferior à nossa e mostrámos sempre intenção de negociar. Eu e o Armando Pereira não entendemos esta forma de fazer negócios, de não aproveitar a melhor proposta. O nosso capital é 100% português e temos um grande projeto para revitalizar Vilamoura, que, no nosso entender, está há muito tempo abandonado. É um diamante que é preciso lapidar", explicou Paulo Pereira.
O negócio, anunciado esta semana, deve ser assinado amanhã. O JN sabe que, para o Lone Star, a argumentação dos dois empresários não tem fundamento, porque o fundo não terá recebido uma proposta formal de ambos.
Antiga ministra é diretora do fundo que investe
Um dos principais financiadores da operação contestada é o fundo britânico Arrow Capital. Em 2016, depois de ter cessado funções como ministra da Finanças de Passos Coelho, quando o BES já tinha falido, Maria Luís Albuquerque foi contratada pelo fundo como administradora não-executiva. A contratação foi questionada pela classe política por ter mantido as funções de deputada, mas teve o aval da comissão de ética.
Pormenores
Governo informado
De acordo com informações recolhidas pelo JN, os empresários comunicaram os contornos do negócio a vários membros do Governo, tendo em conta que a empresa-mãe do grupo Lone Star detém 75% do Novo Banco, que já recebeu mais de seis mil milhões do Estado.
Projeto futuros
Os novos donos do Vilamoura World garantiram existir um projeto de expansão do complexo, já aprovado pelas autoridades nacionais que faz parte dos planos para os próximos anos. Estão previstos vários investimentos.