Nos primeiros dez meses de 2020 registou-se um crescimento de 5%. Estudo do INSA revela um terço da população com sinais de sofrimento psicológico.
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Nos primeiros dez meses do ano passado foram vendidas mais 350 mil embalagens de antidepressores, face a período homólogo de 2019, num total de 8,1 milhões. Período em que se registou uma quebra nos ansiolíticos e sedativos, mesmo assim com 8,5 milhões de embalagens dispensadas nas farmácias. Numa altura em que, de acordo com um estudo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), um terço da população apresentava sinais de sofrimento psicológico.
De acordo com os dados fornecidos ao JN pela Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), as vendas de antidepressores aumentaram 5% face a período homólogo do ano anterior, chegando aos +11% se comparado com 2018. Já os ansiolíticos mantêm tendência decrescente, com uma quebra de 2%. Neste momento, são dispensados quase tantos ansiolíticos como antidepressores. O Programa para a Saúde Mental, sublinhe-se, tinha como meta para 2020 a inversão da "tendência da prescrição de benzodiazepinas [grupo dos ansiolíticos, hipnóticos e sedativos] na população".
Pandemia e saúde mental
Um aumento que, "indiretamente", poderá levar "a presumir que há alguma relação com a situação de saúde mental que estamos a viver", afirma ao JN a coordenadora do estudo do INSA, Teresa Caldas Almeida. Intitulado "Saúde mental em tempos de pandemia", apurou que "33,7 % dos indivíduos da população geral e 44,8% dos profissionais de saúde apresentavam sinais de sofrimento psicológico". Transpor os resultados para os dias de hoje não é linear: "A situação agora é diferente, um novo período de confinamento que traz maior cansaço a todas as pessoas. Podemos estimar que a situação se esteja a agravar", explica.
Numa análise à população em geral, o estudo - feito com base em mais de seis mil inquéritos realizados entre maio e agosto - revelou 27% dos inquiridos a reportarem sintomas moderados a graves de ansiedade, 26,4% de depressão e 26% de perturbação de stress pós-traumático. "Estas prevalências são mais elevadas do que as previamente reportadas pelo 1.º Estudo Epidemiológico da Saúde Mental", lê-se no documento.
Impacto maior nos confinados
Sofrimento psicológico esse que chega aos 72% quando os inquiridos estiveram em quarentena, isolamento ou já recuperados. Com mais de metade, de acordo com o estudo, com "sintomas de depressão moderada a grave". Já quanto aos "indivíduos infetados que estiveram em internamento hospitalar ou em cuidados intensivos, a esmagadora maioria (92%) refere sintomas de ansiedade moderada a grave", precisam.
Com maior impacto nas mulheres, nos jovens adultos, nos desempregados e em pessoas com baixos rendimentos. Grupos que, defende Teresa Caldas de Almeida, deveriam ser prioritários ao nível de medidas de intervenção. Tal como "os grupos de idosos, classicamente em Saúde Pública os mais frágeis".
Relativamente aos profissionais de saúde, "são sobretudo aqueles que estão a tratar doentes com covid os mais afetados, com um risco de sofrimento psicológico 2,5 superior àqueles que não tratam doentes com covid". Grupo este com níveis de burnout - exaustão física e emocional - mais elevados (32,1%).