O presidente do Chega, André Ventura, socorreu-se do discurso feito por Passos Coelho há uma semana, em Faro, para alimentar a esperança de que haverá um acordo pós-eleitoral com a AD. Embora nunca diga quem, alegadamente, lhe deu essa garantia, o fundador do Chega citou vários sociais-democratas que o defendem.
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O PSD nega - "Não, não e não", tem repetido Luís Montenegro - mas André Ventura reitera que haverá um acordo entre o Chega e a AD após as eleições legislativas do dia 10 de março. Caso o PS vença as eleições mas haja uma maioria de Direita com os deputados do Chega no Parlamento.
Em entrevista à RTP, esta segunda-feira, o líder do Chega voltou a não dizer quem foi a pessoa que lhe deu essa garantia: “Acho que não vale a pena identificar. São forças vivas, são aquelas que eu conheço bem no PSD e que sabem que não devemos deixar o PS governar se houver uma maioria à Direita. Mais do que a identificação das pessoas, eu acho que é importante passar essa garantia de que, mesmo com o PS a ganhar, nós podemos ter um governo de Direita”.
André Ventura lembrou que “no PSD há muita gente que compreende” que só com o Chega serão Governo, e citou nomes: “Alguns até se têm feito ouvir, como Ângelo Correia, Rui Gomes da Silva, Miguel Relvas. O próprio Passos Coelho, no final, no discurso, disse 'Luís, eu sei que terás de encontrar as forças políticas para formar maioria'”.
Em Faro, há uma semana, a propósito da governabilidade futura do país, Passos Coelho disse que Luís Montenegro “não deixará de procurar o que lhe faltar para poder fazer o que é preciso”, leia-se, conseguir governar. A frase foi entendida por alguns como um eventual apelo à negociação com o Chega e André Ventura aproveitou-o: “Infelizmente a AD não compreende isso para já, ou pelo menos Luís Montenegro não compreende”.
Ângelo Correia e Miguel Relvas, ambos ex-ministros de governos do PSD, já disseram na CNN que Luís Montenegro não devia excluir acordos com o partido de André Ventura. Ao JN, em janeiro, Rui Gomes da Silva também manifestou a mesma posição: “A opção totalmente errada do PSD de estabelecer linhas vermelhas com o Chega ficará, para o bem e para o mal, ligada a Luís Montenegro”.
André Ventura falou da ligação a Passos Coelho, com quem "raramente" fala mas por quem tem "estima e uma grande consideração". E agradeceu que o ex-primeiro ministro tivesse trazido à liça o tema da imigração no discurso que fez em Faro. "Foi sobretudo a constatação de que há aqui temas importantes como a imigração que é preciso controlar. Portugal deve acolher bem, mas tem de ter regras para quem chega", explicou Ventura.
Para o jurista e deputado de 41 anos que lidera o Chega, o país precisa de outra democracia: “Queremos democracia, mas não esta democracia. Os portugueses não confiam nos políticos, não confiam na Assembleia da República e têm desconfiança em relação às instituições”. Ventura, assume-se, porém, “perfeitamente democrático”.
André Ventura foi ainda questionado sobre a posição que tem sobre a lei do aborto e revelou que é contra a prática pois “devemos lutar para evitar que as mulheres façam aborto”. Ainda assim, entende que “prender as mulheres não é solução” e por isso deixou o compromisso de que enquanto for presidente do Chega “não será apresentada nenhuma proposta para criminalizar” a interrupção voluntária da gravidez.
Ou seja, é contra o aborto mas também é contra alterações à lei: "Nós devemos lutar para evitar que as mulheres façam aborto. Devemos ter uma cultura em que devemos lutar pela vida e favorecer o nascimento. Por isso é que garanti que enquanto eu for presidente do Chega não apresentaremos nenhuma proposta para criminalizar. Prender as mulheres não é solução".