André Ventura prometeu, esta terça-feira, que fará "o choque do maior aumento de pensões que Portugal alguma vez teve", no final de uma arruada em Braga, em que ouviu queixas de reformados. Já o tema da imigração, que tem marcado o debate político, dividiu a comunidade brasileira que assistia à passagem do Chega.
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"Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro passam agora a vida a discutir o choque salarial ou o choque fiscal, o nosso choque é diferente, nós vamos dar um choque de dignidade a este país de forma a que não haja um pensionista na pobreza", declarou num pequeno palco instalado no final do percurso da arruada.
O líder do Chega insistiu ainda na promessa de que “não haverá nenhuma pensão abaixo do salário mínimo nacional”. “Nos primeiros três anos, queremos equiparar todas as pensões ao valor do IAS e o custo disso é de 1,6 mil milhões de euros. Todos os anos, desperdiçam-se no Ministério da Saúde dois a três mil milhões. Digam-me lá se não podemos gerir um bocadinho melhor e aumentar as pensões ”, desafiou em seguida.
André Ventura aproveitou também para dar exemplos das queixas que ouviu na arruada, lamentando que existam reformados que vivem com "200 euros, cento e poucos euros" e ex-combatentes que têm apenas direito a um "suplemento de pensão de 57 euros". "Isto deveria envergonhar-nos como país. Nos 50 anos do 25 de Abril, como permitimos ter pensões a este nível?", criticou ainda.
A propósito da sua interação com os lesados do BES que aproveitaram a arruada para protestar, Ventura disse que "eles têm razão" porque "perderam as poupanças todas, tudo aquilo em que investiram para que outros estejam a viver em palacetes e em palácios e tenham ficado com tudo".
"É com esse país de impunidade que queremos acabar. Prometi a estes homens e mulheres uma coisa: se formos Governo, se formos poder, a impunidade dos Ricardos Salgados, dos Rendeiros e dos Oliveiras desta vida vai acabar", garantiu no final.
Durante a arruada, que começou no Arco da Porta Aberta, André Ventura falou com várias pessoas que o interpelaram, desde pensionistas a jovens. Houve várias selfies, abraços e beijos, como os que trocou com Maria Irene Pereira, de 65 anos, que vive em Braga. "Sempre esperei por este dia!", disse ao JN, porque gosta de André Ventura "como pessoa, como político, como tudo!". Mas também houve quem repudiasse a presença do Chega, como um homem que segurava um cartaz com a mensagem "fascista, 25 de Abril sempre".
Apoiante de Bolsonaro e Ventura
A acompanhar a comitiva estiveram os dois amigos Tiago Lordelo, de 31 anos, e Diogo Silva, de 24. Tiago é da cidade de Salvador e é um dos inúmeros brasileiros que escolheram Braga para estudar ou viver. Frequenta o curso de Políticas Sociais na Universidade do Minho. Foi apoiante de Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, e agora revê-se no Chega.
Quando a imigração estava a marcar o dia, com a polémica em torno das declarações de Pedro Passos Coelho, Tiago Lordelo disse ao JN que há uma "distorção" na forma como o discurso de André Ventura é interpretado. "Sou imigrante em Portugal e não sinto qualquer hostilidade", afirmou, considerando que Ventura "não é contra a imigração, mas quer que seja controlada para segurança de todos". "Percebo a situação de Portugal porque no Brasil temos os venezuelanos no Norte e os argentinos no Sul", explicou o aluno da Universidade do Minho.
Por sua vez, Diogo Silva diz apoiar o Chega por estar cansado da alternância entre PS e PSD. Concorda com tudo o que defende André Ventura? "Claro que não", respondeu. Mas mesmo assim quer dar oportunidade a "novas ideias". Esteve a viver em Paris desde criança e regressou há dois anos. "Ajudou-me a ver outra realidade", garantiu, destacando os temas da imigração, que "é boa" mas carece de "controlo", e do aumento da criminalidade.
"O país precisa de imigrantes"
Mas as opiniões dividiram-se entre a comunidade brasileira que esta terça-feira se cruzava com a comitiva do Chega, com expressões de desagrado à passagem do líder do partido. Valéria Borges e Renan Rocha, ambos de 32 anos, são um casal do Brasil, trabalham e vivem em Braga há oito meses. Ainda vão decidir o sentido de voto, mas nunca será em André Ventura. Alertam que o seu discurso "xenófobo" pode causar perturbação e problemas na sociedade. "O país precisa dos imigrantes", sublinhou Valéria.